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Internacional
De revisor de lápides a Prémio Nobel da Literatura, eis a história de Mario Vargas Llosa
Mario Vargas
José Guinot em 24 de Outubro de 2010 às 16:10
Curiosamente, não estava na lista dos favoritos. Mas Mario Vargas Llosa era um eterno candidato e, desta vez, a Academia Sueca distinguiu-o mesmo com o Prémio Nobel da Literatura. ¿Estou surpreso. Tenho vontade de caminhar porque estou meio perplexo. Espero sobreviver ao Nobel. Espero que mo tenham dado pela minha obra literária, mais do que pelas minhas ideias políticas¿, disse o escritor peruano em Nova Iorque. No início, Llosa pensou até que a notícia do Nobel era uma brincadeira.

«O melhor de receber o Nobel é já não ter de explicar porque é que não mo davam. Como previu a minha mulher, a nossa casa transformou-se num manicómio.»

Nascido a 28 de março de 1936, Mario Vargas Llosa é filho único numa família de classe média. Os pais separaram-se quando ele tinha apenas 5 meses e essa circunstância fez com que só viesse a conhecer o pai, Ernesto, aos 10 anos. A primeira infância do pequeno Jorge Mario foi passada na Bolívia com a mãe, Dora. Em 1946, pouco depois do regresso ao Peru, os pais reconciliaram-se. Em 1953 ingressou na Universidade Nacional de São Marcos, em Lima, capital do Peru, onde estudou Letras e Direito, contra a vontade do pai.

Antes de se tornar escritor, Mario Vargas Llosa foi o «homem dos sete ofícios». Foi jornalista e funcionário de uma biblioteca e teve um trabalho, no mínimo, macabro: foi revisor de nomes de túmulos num cemitério. O seu percurso literário começou em 1959. Doutorou-se em Letras pela Universidade de Madrid e publicou o primeiro livro, «Os Chefes», uma coletânea de contos. Nunca mais parou de escrever e de publicar, aliando a docência universitária à sua atividade literária.

Antes, em 1955, quando tinha 19 anos e ainda vivia na Bolívia, deixou-se seduzir pela sua tia Julia Urquidi, irmã da mulher do seu tio materno. Ela era uma mulher divorciada e tinha 30 anos, mas a diferença de idade e o parentesco não impediram que os dois se casassem em

1959, mesmo contra a vontade da família. Esta relação proibida inspirou o livro «A Tia Julia e o Escrevinhador», publicado em 1977. Mas o casamento só durou até 1964, altura em que Vargas Llosa se apaixonou pela prima Patricia. Casaram-se em maio do ano seguinte, ato que voltou a chocar a família. À cerimónia assistiram apenas seis pessoas e o casal partiu para Paris, onde viveu vários anos. Tiveram três filhos: Álvaro, em 1966, Gonzalo, em 1967, e Morgana, em 1974.

Ao longo da sua vida, o escritor peruano viveu e trabalhou em diversos países, nomeadamente, Estados Unidos da América - atualmente dá aulas na Universidade de Princeton, em Nova Iorque -, Grécia, França, Inglaterra e Espanha. De resto, Llosa obteve a cidadania espanhola em 1993, sem nunca renunciar à nacionalidade peruana.

«Considero-me peruano, latino-americano, espanhol. Europeu. Sou tudo isso», declara.

À riqueza da sua obra literária Mario Vargas Llosa acrescentou sempre um forte empenhamento social e político. O ponto alto aconteceu em 1990 quando se candidatou à Presidência do Peru. A sua experiência na campanha é relatada no livro de memórias «Peixe na Água», publicado em 1993. Perdeu a eleição, é certo, mas desde então é visto - de forma recorrente - como um forte candidato a líder. A esse propósito, o escritor já disse que não vai disputar a Presidência do Peru em 2011.

«Eu participo, faço jornalismo, escrevo, comprometo-me com certas causas. Isso vou continuar a fazer, mas política profissional não, nunca mais», declarou há dias, já depois de ter conquistado o Nobel.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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