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Internacional
Vargas Llosa considera último romance o mais otimista da sua obra
Mario Vargas Llosa recebe o Prémio Nobel da Literatura (EPA/Justin Lane)
Redação Lux em 29 de Setembro de 2013 às 14:17
O prémio Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa plasmou no seu mais recente romance, «O Herói Discreto», o crescimento e a consolidação da democracia no Peru e, por isso, considerou-o hoje «o mais otimista» de todos os que escreveu.

Numa conversa com o escritor Juan José Armas Marcelo no teatro Juan Bravo, em Segóvia, sobre o romance que acaba de ser publicado em Portugal pela Quetzal, o escritor peruano insistiu nas diferenças ocorridas no seu país, quando comparado com o que era há 20 ou 30 anos, «num continente cheio de ditaduras militares».

Para Vargas Llosa, os consensos políticos e crescimento económico da atualidade opõem-se àquela sociedade marcada pela desigualdade, «onde as bases da democracia eram tão ténues e débeis que duravam o que dura um suspiro».

Com o teatro a abarrotar de público, o escritor de 77 anos, autor de obras como «Conversa na Catedral», «A Tia Júlia e o Escrevedor» e «Pantaleão e as Visitadoras», reconheceu que, na altura de escrever, talvez tenha agora mais respeito pelos mais velhos.

«Agora, que me tornei velho, sou menos crítico e severo com os velhos do que era nos meus romances de juventude», observou.

Em tom de piada, Armas Marcelo perguntou-lhe se há, em «O Herói Discreto», uma homenagem ao folhetim latino-americano, o que Vargas Llosa negou sem pensar duas vezes, acrescentando que concebeu este romance com a ideia de «descrever, mostrar o heroísmo dos seres anónimos, que é a reserva moral de uma sociedade, homens ou mulheres que tentam ser coerentes com os seus valores».

É esse o caso de Felicito Yanaqué, o protagonista do livro, que não cede a uma chantagem da máfia, embora coloque em perigo a sua vida.

Falando sobre a técnica da escrita, considerou muito importante que se mantenha a curiosidade do leitor e confessou que procura sempre que haja um elemento que mantenha viva a expectativa, aquilo a que chamou «narrar por omissão», «dar certos dados ou ocultá-los mas de tal maneira que se insinuem».

Depois de brincar com o facto de lhe restar menos tempo de vida do que projetos na cabeça, aos 77 anos, Mario Vargas Llosa falou ainda do trabalho que está agora a fazer, em torno da adaptação ao teatro do «Decameron», de Bocaccio.

Sobre isso, disse sentir-se impressionado com a ideia de um grupo de pessoas que «decide escapar para o imaginário» e se fecha numa «villa», quando se confronta com uma peste em Florença, no século XIV, cercado de morte.

Essa situação fê-lo concluir que ¿quando tudo parece impossível, há sempre um recurso à fantasia e à imaginação «por isso, há literatura, para nos fazer viver aquilo que não podemos na vida real».

Exercitando a imaginação, sustentou, «não só nos divertimos, como mantemos vivo o mecanismo que impede que a sociedade se congele e se transforme num mundo de seres resignados».

Lusa
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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