«Modelos masculinos há muitos, femininos também, agora andrógenos não». Nuno Pereira tem 22 anos, cresceu no Algarve e podia ser um manequim igual a tantos outros, mas não é. Já fez trabalhos como homem e como mulher, revelando uma versatilidade natural. «É algo que nasce com a pessoa», explica. Conheça a história de um modelo andrógeno português.
Lux - O que é a Androginia?
Nuno Pereira - Androginia é a presença, em simultâneo, de traços e características masculinas e femininas, quer ao nível físico (corpo, traços faciais) quer ao nível psicológico. Nada tem a ver com homossexualidade, travestismo ou transexualidade, como algumas pessoas podem pensar. É algo que nasce com a pessoa e que, à medida que os anos vão passando, vai ficando cada vez mais evidente nos traços do rosto.
Lux - Considera que tem mais traços masculinos ou femininos?
N.P. - Sou suspeito. Depende muito do meu look do dia. Sem barba o meu rosto fica totalmente feminino. Desde sempre soube que era um rapaz «diferente». Fui vítima de bullying por ser muito menina... Durante a minha adolescência, acharam que eu era uma rapariga várias vezes, mas eu aceitava-me como era, apesar de, por vezes, não compreender certas coisas.
Lux - Já recorreu à cirurgia estética?
N.P. - Nunca, mas já pensei em operar o nariz para ficar com o rosto mais feminino, porque é um ponto muito masculino e evidente no trabalho final quando se é modelo fotográfico.
Lux - Por que razão decidiu cultivar a feminilidade?
N.P. - Na realidade, eu não fiz muito por isso. Nasci assim e o meu estilo sempre foi uma mistura do feminino com o masculino. Mas é claro que tive de cultivar mais a feminilidade, até porque muitos dos meus trabalhos são como mulher e se isso podia ser uma mais valia para mim, por que não?
Lux - O que sente hoje quando o confundem com uma mulher?
N.P. - Mesmo quando tenho barba as pessoas questionam-se e trocam olhares... Na noite, como eu trabalho em moda, preparo-me um pouco mais, maquilho-me e, aí sim, sou constantemente confundido. Chego a pagar entrada de mulher quando estou vestido como homem. Na verdade, agora reajo super bem, quer dizer que o meu trabalho até no dia-a-dia é bem feito. Costumo dizer que brinco ao menino que parece uma menina, e é divertido.
Lux - Considera-se 100% homem ou já pensou mudar de sexo?
N.P. - Considero-me um homem e jamais pensei em mudar de sexo. No fundo, eu aceito-me como sou e isso é o principal para o meu dia-a-dia e para o meu trabalho.
Lux - Como é que foi descoberto pelo mundo da moda?
N.P. - Eu não sabia que era andrógeno até ao dia em que fiz uma sessão fotográfica e o produtor do trabalho referiu que eu tinha traços femininos incríveis. Actualmente, trabalho como «caçador de talentos» da DXLmodels e sou o único modelo a trabalhar em Portugal como andrógeno, a assumir o papel e, principalmente, a orgulhar-me disso.
Lux - Qual é o seu maior sonho como modelo?
N.P. - Neste momento, o meu maior sonho é dar a conhecer o meu trabalho e o meu nome, ser reconhecido por isso e apenas isso, como modelo andrógeno. A nível mundial, já há grandes modelos andrógenos, que fazem muito sucesso, orgulhando o seu país. Mas, claro, também tenho o sonho de fazer uma capa da «Vogue» ou da «Elle», o que, em Portugal, acho um pouco difícil, porque não sei até que ponto seriam capazes de apostar neste perfil de modelo.