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Nacional
Redação Lux em 8 de Novembro de 2019 às 18:00
Margarida Pinto Correia é o novo rosto do “Raio X” do Canal S+

Imparável, entusiasta, cheia de energia, fôlego e encanto. É assim que Margarida Pinto Correia, desde 2017 diretora de Inovação Social da Fundação EDP, abraça mais um desafio, regressando à televisão como novo rosto do programa “Raio X”, no Canal S+. Pretexto perfeito para conversar com a jornalista, atriz, ativista social e deixarmo-nos inspirar pelo seu percurso, experiências e estilo de vida.

Lux – Como surgiu esta oportunidade e o que podemos esperar do programa?
Margarida Pinto Correia – Surgiu como uma surpresa, um desafio do canal, depois de a minha antecessora, a Ana Sousa Dias, ter seguido para outras quimeras. Pode-se esperar uma conversa intimista, calma, curiosa, pessoal. Olhos nos olhos, uma abordagem à visão daquela pessoa sobre saúde e bem-estar na sua área. Uma versão menos formal e mais humana da pessoa atrás do cargo – são normalmente figuras de destaque no panorama nacional, ou figuras que queremos destacar, nos bastidores da saúde e bem-estar em Portugal. Será uma partilha de posturas e ideias, estórias e conceitos, pelo fio condutor da personalidade do convidado!

Lux – Qual o maior desafio em regressar à televisão?
M.P.C. – Resistir-lhe. Tudo o resto é-me natural, e sabe-me muito bem.

Lux – Ainda se lembra do seu maior receio quando se estreou em televisão, no “Vivá Música” ou no “Caderno Diário”?
M.P.C. – Não tinha muitos receios técnicos, ou de não conseguir: tinha receio do que é que “os outros iam achar”, em geral. Gosto sempre de ouvir opiniões, porque acredito que só daí posso crescer, ainda hoje. Quando tudo se cala à minha volta, fico convencida que deve ter sido muito mau e me estão a poupar! E essa insegurança, meio infantil, faz parte de mim.

Lux – Já passou por tantas experiências profissionais. O que mais a marcou?
M.P.C. – O que mais retenho é o que me transforma. Na televisão foram sobretudo as pessoas, e o sublime prazer dos diretos. O impacto que criamos com um olhar, com uma câmara ligada, é incrível e sabe-me bem, porque o respeito e lhe conheço os contornos, mas nunca os conhecemos a todos. É um bocadinho como o mar: respeitar e saborear ao mesmo tempo. Ir entrando, ir aprofundando, mas sempre em enorme respeito pela força bruta do ‘monstro’. Retenho o que me marcou de bom e mau. As reações dos outros. A gratidão de alguns, ou o efeito que teve na vida deles. Retenho o que já não faço da vez seguinte, porque aprendi que não resulta... Marcou-me muito o “Caderno Diário”, porque as reações eram formidáveis, os miúdos gostavam e queriam mais, e os graúdos confessavam que, por fim, estavam a perceber o jornal quando chegavam às 20h… foi um desafio incrível, poder explicar as notícias em ‘descomplicómetro’! E os jornais, claro, porque eram sempre diferentes. Nos jornais de sábado (RTP 1992/3/4) começámos, na altura, a fazer diretos de lugares marcantes daquela semana, e essa adrenalina, essa entrega e pertença ao momento eram viciantes e muito desafiantes. Em relação a outros desafios, claro que me marcaram reportagens de rádio e televisão, a imensidão da Antártida e dos desertos. Marcaram-me os anos seguidos de rádio, que é a coisa mais perfeita de “continuação de mim”. Marcou-me a Fundação do Gil, a forma como a construímos e fizemos crescer, o impacto que tinha, e tem, na vida de milhares de crianças, nas suas famílias e, por isso, na nossa sociedade e comunidades PALOP. Isso sim era sentido de entrega e de transformação. Depois marcaram-me, também, as hipóteses de gente incrível que fui podendo conhecer por causa do trabalho, em TV, revistas, jornais, rádio e no mundo social. É muito bom poder ter uma vida profissional que nos leva a cruzar permanentemente com gente inspiradora. E ainda, no teatro e na ficção… marcou-me a forma como me sinto inteira na pele dos outros! Adoro, adoro, adoro.

Lux – Como orienta os seus filhos a nível profissional? Qual é o maior conselho que lhes dá?
M.P.C. – Que se sintam inteiros, que sigam o que os preenche. Quando me dizem “mas esta área, se calhar, não tem saída”, digo-lhes aquilo em que acredito mesmo: hoje em dia, o que tem saída somos nós. São as pessoas, pela diferença que fazem naquilo que são. É a sua unicidade e a forma como se entregam. Haverá milhares como eles, com a formação deles, a querer fazer o que eles quiserem. Só alguns se destacam, só alguns são felizes a fazer o que querem. Então, que seja por isso, por serem especiais, por serem eles próprios, e por se sentirem úteis e transformadores dos outros, para melhor! E que não parem nunca de se formar, de se construir, de acrescentar-se.

Lux – Qual é a sensação de ter filhos já “crescidos”, “fora de casa”? O que muda?
M.P.C. – Muda a vida inteira. Os ritmos, os silêncios. Muda não os ter em casa, muito, mas o que nunca muda é a nossa permanente ligação de sexto sentido, a nossa infatigável vontade de que lhes corra tudo bem, de que estejam bem, o nosso cuidado. Isso não muda nunca.
Lux – Que relação tem com a sua imagem? Como tem lidado com a passagem dos anos nesse sentido?
M.P.C. – É uma relação esquisita! Sempre achei que não me ia importar nada, mas importo. A força de gravidade é uma chatice! Mesmo estando em forma, sentimo-nos mudar sem poder fazer nada. E na cara, com que me choco às vezes, verdadeiramente surpreendida no espelho, é tramada! Ainda por cima, pessoas como nós, que andamos expostos há muitos anos, temos acesso a boas fotos de nós antes, “xxxiiiiiii, tão novinha….” Grrrr! Não me importo propriamente de envelhecer, mas reajo muito mais do que pensava ao facto de piorar o aspeto. Adorava ter umas pinças mágicas a puxar a cara para cima, mas na inexistência, olha, é lidar! Tenta-se tratar bem, cuidar e seguir bons conselhos, continuar a mexer o corpo e a iluminar a alma, rir muito e saborear momentos e belezas nos outros e no mundo. A sério, acho mesmo que isso nos ajuda a viver e, por isso, a envelhecer. Isso, e claro, a gratidão de olhar à volta e estar bem. Ter saúde e ter abraços. Às vezes, distraio-me, o espelho apanha-me desprevenida, e assusto-me mesmo: parece que não correspondem, o que nos vai por dentro e a cápsula-corpo em que se passeia!

Lux – Pode descrever-nos o ritmo do seu dia a dia?
M.P.C. – Ficavam cansados! Mas é como o de toda a gente que trabalha… levanto-me cedo, passeio o cão, vou trabalhar. Tenho dias de estrada, com muitos projetos na Fundação EDP, que fazem com que ir e vir, ali assim a Bragança ou a Campo Maior, seja normal. Dias de escritório e computador, e dias de virote em que se metem gravações de rádio (Antena 1, “Encontros Imediatos” com o João Gobern) e agora de TV, visitas a família e amigos ou ações de formação, congressos, conferências. Ginástica três vezes por semana… lembrar-me de logística a meio do dia: qualquer coisa que falta tratar, compras, filhos… e o prazer de voltar a casa, de jantar no ninho, de saber como foram as aventuras dos outros. Sabe-me bem o passeio canino noturno, para repor níveis e gerar alguma paz. Os meus pais saíam sempre a seguir ao jantar, para dar uma volta a pé, e sempre achei isso de uma sabedoria invejável. Agora consigo fazê-lo e gosto muito. Às vezes, se fui ao teatro ou ao cinema ou ter com amigos, esse passeio é tardio. Pode encurtar, mas nunca desaparece.

Lux – Que estilo de vida privilegia?
M.P.C. – O do bem-estar, o de sentir os outros bem à minha volta. O de respirar fundo para que tudo se enquadre. O da compaixão, de me pôr no lugar dos outros, de perceber porquê. O de rir e celebrar, e o de abraçar. O de passear – tenho espírito de índio…

Lux – Quais são os seus hobbies?
M.P.C. – Confundo-os. Às vezes, sinto que são uma linha de
Excel, porque ficam escondidos. A rádio e a TV são uma mistura de dever e prazer que me é permitida quando giro o que tenho de fazer na fundação…serão hobbies? Andar a cavalo, fazer chi kung, andar a pé ou de bicicleta, ler, ver teatro e cinema, estar com amigos, assistir a concertos… serão hobbies?

Lux – Como é um fim de semana perfeito?
M.P.C. – Em paz. Pode ser na loucura de uma festa a dançar até às quinhentas, ou a passear a pé numa falésia. Pode ser a arrumar e a revirar a casa, pode ser a trabalhar (são muitos) em ações de comunidade, pode ser a descansar (gostava que fossem mais), a visitar outros que precisam e querem, ou só a ficar quieta. Muitos destes são perfeitos, se estiver em paz. Muitos destes se estragam por estar angustiada com alguma coisa, ou em guerra com algum momento.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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