Hoje despedi-me do Mário Soares.
Tenho 40 anos.
Fui aos Prazeres dizer -lhe Adeus e dizer -lhe Obrigada e quando, no meio da ventania se ouviu a sua voz gravada, um braço meu enlaçava a minha filha Leonor, o outro a sua irmã Maria e nos rostos adolescentes de ambas, as primeiras lágrimas lentas.
Uma tem 14, outra 16.
Conhecem a história do país onde vivem.
Vi amigos de esquerda e de Direita de olhos fixos na urna, mudos e gratos.
Democratas, todos. Pessoas como Soares, com virtudes e defeitos, vergando -se perante a memória de alguém que esteve sempre do inequívoco lado da Liberdade.
Vi homens fardados bater a continência a chorar
E mulheres de avental a gritar " Soares é fixe , o resto que se lixe ". Ouvi a Isabel e o João - e lembrei -me que todos somos crianças perante a morte dos nossos colos.
Depois a ventania passou e regressámos a casa.
Eu, a Leonor e a Maria. E o Bochechas, claro.
Porque há despedidas que são o início de um caminho. E conseguir em vida (e na morte ) inspirar caminhadas de outros , é só para os maiores e os mais fixes.
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