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Nacional
Redação Lux em 17 de Novembro de 2015 às 12:39
ENTREVISTA LUX: Ana Romero relata em livro as razões que levaram Juan Carlos a abdicar do trono espanhol
"É como uma “tempestade perfeita” que Ana Romero se refere aos últimos quatro anos de reinado de Juan Carlos I. Para a jornalista espanhola, autora do livro “Xeque ao Rei”, foram os escândalos e os acontecimentos que se sucederam entre 2010 e 2014 que acabaram por determinar a repentina abdicação do monarca, que completa 78 anos em janeiro.

Em Portugal para pro­mo­ver a obra, Ana descreve à Lux alguns dos fatores que consi­dera terem levado o rei de Espanha a passar o trono ao filho Felipe, como a sua relação com Corinna zu Sayn-Wittgenstein, que ficou exposta com a sua polémica viagem ao Botswana, em 2012. “De repente, o rei aparece a caçar elefantes (o que para a maior parte das pessoas é horrível), a pagar 60 mil euros por um safari, com uma mulher que não era a sua. Nas costas do povo espanhol. Foi uma deceção gigantesca!”, recor­da Ana, que é adjunta da direção do diário El Español.

Lux – De que forma a relação com Corinna zu Sayn-Wittgen­stein influenciou a abdicação de Juan Carlos?

Ana Romero – Complicou tudo. A presença de Corinna fez tudo ficar pior. Ele estava mal de  saúde, havia uma crise económica, um escândalo de corrupção na família, mas Corinna foi uma bomba que multiplicou tudo. Ele não estava concentrado… Passava muito tempo na Suíça, num duplex nos Alpes, quando em Espanha se vivia uma crise económica.

Lux – Por que é que esta mulher lhe causou tanta perda de concentração?

A.R. – Primeiro, porque chegou no final da sua vida. Apareceu quando ele era mais velho, mais vulnerável... Se ele tivesse conhe­cido Corinna com 35 anos, as coisas seriam seguramente diferentes. Também surgiu num momento em que a família real estava especialmente destruída, com problemas devido à infanta Cristina e a Urdangarin. Os espanhóis começaram a perceber que eles não eram uma família estável, equilibrada, exemplar. No livro, utilizo a expressão “tempestade perfeita”. A Corinna apareceu no pior momento.

Lux – Acredita que estavam apaixonados?

A.R. – Ao falar com pessoas próximas e ao fazer a investigação para o livro, tive a perceção de que o rei era mais dependente dela do que ela dele. Devido à diferença de idades, devido às múltiplas doenças que foi tendo, estava muito debilitado… Psico­lo­gicamente, dependia muito dela.

Lux – Pensaram no casamento?

A.R. – Foi analisado e chegou-se à conclusão de que seria impossível, mas o desejo existiu e ocorreu o npensamento: “Porque não?” Disse-o algumas vezes: “Porque é que o meu filho se pode casar com uma divorciada, porque é que a minha filha se pode divorciar, e eu não?”

Lux – Como vê o papel da rainha Sofia?

A.R. – Creio que as pessoas normais não conseguem entender. Para entendermos, temos de nos colocar no mundo da realeza e pensar que ela tinha um trabalho, um dever, uma obrigação… A sua função na vida era casar-se com um rei, produzir um futuro rei e assegurar-se de que isto acontecia. Foi o que fez. Há pessoas que me perguntam se ela sofreu, mas eu creio que ela não sofria… Acho que ela entendia que a vida familiar fazia parte da vida institucional que lhe tinha acontecido.

Lux – Ela nunca pensou divorciar-se?

A.R. – Nunca quis, jamais permitiria. Isso é inimaginável, no seu mundo. É triste obser­var como, no fim de contas, a relação era e continua a ser inexistente. Não melho­rou com a abdicação.

Lux – Hoje em dia, como é a relação de Juan Carlos com Felipe?

A.R. – Nunca foi muito boa, porque são muito diferentes. O rei Felipe entendia melhor a mãe do que o pai, e isso dificultou muito a relação.

Lux – É verdade que o rei não gostou que Felipe se casasse com Letizia?

A.R. – Completamente! Ainda hoje se pode observar isso… A química não funciona.

Lux – Como é que Letizia foi gerindo a sua relação com o rei Juan Carlos?

A.R. – Para a rainha Letizia, deve ter sido muito difícil toda esta transição, os dez anos que passaram desde que se casou até que se converteu em rainha. É um mundo muito diferente, e creio que não a acolheram bem.  Aceitaram-na porque não tinham outro remédio. Creio que, para ela, estes dez anos devem ter sido duros.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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