Maria de Medeiros canta Sophia de Mello Breyner Andresen, e, pela primeira vez, canções de sua autoria no novo álbum, «Pássaros Eternos», que é editado na segunda-feira.
Neste álbum, a cantora, atriz e realizadora canta em diferentes idiomas, o que já aconteceu nos dois álbuns anteriores, mas estreia-se na interpretação de temas de sua autoria, como «Trapichana», «The cougar song», «Noite» e «Diz que é fado», o que não a deixa muito confortável, como confidenciou à Lusa.
«É curioso. Por vezes sinto mais à vontade a interpretar temas de outros autores que os meus. Estou desejando que outros artistas interpretem as minhas canções e fico muito comovida quando ouço os músicos improvisarem sobre os meus temas», contou em declarações à Lusa.
Além dos temas em que assina a música e letra, Maria de Medeiros partilha a criação de «Shadow girl», com Legendary Tigerman, e «Nasce o dia na cidade», com Raimundo Amador.
O título do álbum surgiu do tema «Nasce o dia na cidade», que escreveu com Raimundo Amador, que é «um artista de enorme prestígio em Espanha, um dos inventores do flamengo-rock, que trouxe o seu virtuosismo na guitarra elétrica, um pouco à maneira de Jimmy Hendrix, para o flamenco, com o seu mítico grupo Pata Negra».
A cantora admitiu que, neste CD, há «uma crítica social» à atual situação político-económico-social e, jogando com o título do álbum, «Pássaros eternos», questionou: «As terríveis águias ditatoriais que teimam em não morrer, mas também a pomba da paz, reflexos de uma antiquíssima luta de conceitos [serão] eternas?»
Um dos temas de atualidade referenciados são os «encontros e desencontros» que a Internet proporciona, precisamente na canção de abertura, «Quem és tu?», de que assina a música e a letra.
É um tema que «quis dedicar a todos os desconhecidos que povoam os nossos computadores hoje em dia». «Temos milhares de amigos nas redes sociais, nomes que enchem as nossas agendas e calendários, mas não sabemos quem são. À falta de conseguir identificar todas essas pessoas, ofereço-lhes uma canção», disse.
Maria de Medeiros compôs também a música para o poema «A bailarina», de Sophia de Mello Breyner Andresen.
«Tive a ocasião de recitar várias vezes em espetáculos o poema magnífico de Sophia, no qual ela cita outro poeta, Arthur Rimbaud, e sempre que o lia, ¿ouvia¿ uma pequena música que surgia das próprias palavras de Sophia, da sua cadência».
«Decidi, então, cantar o poema sobre essa melodia, que se me impunha, e assim nasceu a canção, ¿Por delicadeza¿, que fala dessa bailarina que dança dentro de nós».
«Será o poema de Sophia autobiográfico? Pode ser. Mas é ao mesmo tempo universal. Porque me parece que, em todos nós, há uma parte que quer dançar pelo mundo e ¿só três passos¿ deu», rematou.
À Lusa, Maria de Medeiros disse que «Pássaros Eternos» é um disco que surgiu da prática dos concertos com a sua banda, «as parcerias foram acontecendo» e também a diversidade linguística, pois canta em português, italiano, francês e inglês, o que «é natural».
«A diversidade linguística faz parte do meu quotidiano, há muitos anos. E isso reflete-se no meu trabalho. Não só na música, mas enquanto atriz e na escrita também. Além disso, gosto da música que existe nos próprios idiomas», argumentou.
Referindo-se ao álbum, o terceiro da carreira, a intérprete afirmou: «Eu comparo muitas vezes este trabalho, em que pela primeira vez compus e escrevi a maior parte dos temas, ao momento em que nos oferecem a nossa primeira câmara de fotos e nos dedicamos a fotografar o que nos rodeia e o que nos atrai. Assim, naturalmente surgiram músicas de estilos diferentes, que correspondem aos meus gostos musicais».
Lusa