A infidelidade tem razões químicas. Não sendo a única causa para o adultério, certas substâncias que o organismo produz estão associadas a comportamentos infiéis. A culpa é da testosterona, mas não só.
«Homens com menor tendência para o casamento, ou com maior tendência para o adultério, ou ainda com maior propensão para o divórcio, demonstram frequentemente um nível médio e alto de testosterona», escreve Madalena Pinto, no seu livro «Química do Amor e do Sexo».
Em entrevista à Agência Lusa, esta professora de Química Orgânica e Química Farmacêutica e Medicinal na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto explicou que a obra, editada pela Lidel, teve como principal objectivo «aproximar a química de aspectos e de situações do dia-a-dia».
Segundo a autora, são muitas as situações e, principalmente, os comportamentos que têm uma justificação química, existindo muita ¿culpa no cartório¿ das hormonas e de neuroquímicos em algumas condutas.
Com este livro, Madalena Pinto espera contribuir com um instrumento de interpretação de alguns comportamentos.
«Existem componentes - como as hormonas e os neuroquímicos - que justificam, por exemplo, que após o sexo o homem queira dormir e a mulher prefira ser mimada», disse.
Essa opção pelo sono após o sexo, que a mulher pode interpretar como uma forma de rejeição, não é, afinal, mais do que «um efeito de algumas substâncias químicas cerebrais», explicou.
«A culpa é da química», assegura Madalena Pinto, que investigou a forma como o organismo humano produz moléculas e como estas estão associadas a fenómenos emocionais ou a comportamentos sócio-emocionais.
A investigadora faz, contudo, uma ressalva: «Esses comportamentos não têm apenas uma justificação química, esta é uma entre várias».
No caso da infidelidade, «há, na verdade, uma série de factores - genéticos, psicológicos, ambientais ou educacionais - pois, caso contrário, tudo seria muito fácil de resolver».
Se assim fosse, os comportamentos e sentimentos poderiam ser «produzidos» em laboratório, o que, para Madalena Pinto, «está longe de acontecer».
«Não perspectivo isso. Seria muito fácil se fosse meramente um aspecto químico, mas não é», disse.
Cientificamente provado está o efeito da química cerebral no amor e no sexo.
¿Há uma química cerebral, que tem várias substâncias químicas que jogam entre si, que tem a ver com certos tipos de fenómenos, como estar apaixonado e não ver mais nada além do ser amado¿, explicou.
Apesar desta equação já ter sido revelada, Madalena Pinto considera praticamente impossível que alguma vez se consiga criar um comprimido para o enamoramento.
«Não acredito que se possa criar uma pílula que a pessoa tome e que, olhando para outro, se enamore dela», avançou.
«Não devemos ser tentados a reproduzir os sentimentos ligados ao amor numa base de química de laboratório, mas que no amor há química, lá isso há», escreve Madalena Pinto no livro «Química do Amor e do Sexo».
A autora deixa ainda um conselho: «talvez fosse útil aos conselheiros matrimoniais fazerem um curso de química orgânica¿ quem sabe?».