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E não se pode gritar?
Filho com pais
Redação Lux  com Dr. Paulo Oom em 3 de Julho de 2010 às 09:06
Também sei que, por vezes, as crianças são exasperantes. Que julgam necessário dizer a mesma coisa 300 vezes, pois 299 parecem ser insuficientes, que só ouvem o que lhes interessa, parecendo sofrer de um caso patológico de surdez selectiva, que só falam sobre o que e quando lhes convém, como se o mundo girasse à volta deles próprios e dos seus interesses específicos e (claro!) superiores.

Também sei que, por vezes, nos tiram do sério. Que não fazem espontaneamente aquilo que devem fazer desde sempre (estudar?), que não cumprem algumas obrigações que lhes ensinamos há anos (fazer a cama?), que parecem viver em nossa casa, mas que, para eles, a diferença entre isso e uma pensão ou residencial é muito ténue, talvez inexistente. E que por isso se sentem no direito de reclamar do ¿serviço¿ quando este está abaixo do nível que consideram aceitável.

Também sei que, por vezes, nos tratam como mentecaptos. Como se não percebêssemos o que é evidente, que a vida que querem levar nada tem a ver com o que lhes andamos a ensinar há anos e, mais do que isso, que eles é que sabem. Estão noutra «onda», o que quer que isso queira dizer¿

O que é que apetece fazer nestas situações? Gritar, pois claro. E isso resolve? Não.

Não é por falar mais alto que vai passar melhor a mensagem que quer transmitir aos seus filhos. Até pode resultar, aqui e ali, pois o medo pode ser um factor que capte a atenção da criança ou adolescente (e eles são adolescentes cada vez mais cedo¿). Mas, com o tempo, terá de gritar cada vez mais alto, pois o limiar de audição dos seus filhos vai ajustar-se automaticamente. Além disso, estará a dar um péssimo exemplo, pois eles vão aprender que, nas suas relações pessoais, gritar pode ser um meio para tentarem obter o que desejam. Decididamente, esta não será a forma correcta de convencer os seus filhos a cooperar.

Gritar com as crianças não é uma forma eficaz de resolver os problemas, pelo menos a médio prazo.

Mas muitos pais queixam-se de que, se não o fizerem, as crianças fazem-se de surdas e não lhes ligam nenhuma quando chega a altura de pedir alguma coisa. Onde é que está a solução? Na forma como se comunica com a criança. Vamos, por isso, rever algumas regras básicas: É importante que a criança saiba que está a falar com ela e não possa dar, como desculpa, o tradicional «não ouvi» ou «o que é que estavas a dizer?». Para evitar esta armadilha, estabeleça contacto visual, olhe-a nos olhos e diga o que pretende.

Utilize uma linguagem adaptada à idade da criança, com frases simples e directas, sem lugar a segundas interpretações. Sobretudo, não faça pedidos do género «podes ir fazer a tua cama?», a não ser que queira arriscar ouvir um «não» como resposta. Se o que pretende não é negociável, não finja que é, e seja directo: «Vai fazer a tua cama agora.»

Seja firme e seguro. Não tenha problemas em dar ordens aos seus filhos. Eles vão receber muitas ordens ao longo da vida e é bom que se habituem, desde pequenos, a perceber quando devem obedecer.

Se necessário, utilize a técnica do «check-in» que significa fazê-lo repetir o que acabou de dizer, para que não restem dúvidas de que entendeu o que disse.

Ocasionalmente, mostre alguma tolerância e flexibilidade, se a criança está a terminar outra tarefa ou uma brincadeira e a sua ordem pode ser adiada alguns minutos. Mas não caia na asneira de conceder sempre um período de tolerância, que em três tempos passa a ser rotina sempre que lhe pede alguma coisa.

E sobretudo, não grite. Ao gritar desvia a atenção da criança. Ela não vai mais pensar no que a mãe ou o pai querem, mas sim por que razão estão a gritar daquela forma. E rapidamente começam a argumentar sobre o seu estado de espírito, sobre a sua necessidade de relaxar, sobre tirar umas férias, enfim, falarão de tudo menos sobre aquilo que acabou de lhes dizer para fazer.

Respire fundo, conte até três (ou trinta se for preciso) e vá em frente. Ninguém disse que educar era fácil.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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