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Crianças
O menino que não sabia ler
Jovem
Redação Lux em 26 de Novembro de 2009 às 20:59
por Leonor Ribeiro

Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação


O menino Francisco sempre foi uma criança feliz, feliz com a vida e consigo mesmo, isto até ao segundo dia de aulas... Nessa altura passou a sentir-se tremendamente infeliz, incapaz, diferente... Ninguém o compreendia, e ele próprio não conseguia perceber por que não conseguia memorizar as letras e juntá-las para ler sílabas e palavras. O mundo das letras era um verdadeiro mistério, mas não conseguia explicar porquê.

Durante os primeiros meses do 1º ciclo, o Francisco ouvia «tens de te esforçar mais», «não sejas preguiçoso», «tens de estar atento», «talvez seja burro e estamos a pedir demasiado», mas ele verdadeiramente esforçava-se muito e ao princípio sabia que não era burro, pois até era bom na matemática e em educação física, mas a pouco e pouco foi acreditando que o problema era dele e que nunca seria capaz de o ultrapassar.

Os pais tinham dificuldade em aceitar que o filho fosse incapaz, dificuldade em aceitar que o seu percurso académico fosse limitado, pois eles sabiam que o seu filho era capaz de aprender outras coisas rápida e facilmente, tal como tocar um instrumento de música, praticar um desporto, fazer puzzles, aprender sobre temas do seu interesse, trabalhar no computador. A professora experimentou diversas estratégias e metodologias diferenciadas, mas acabou por fazer a sua referenciação e ele foi encaminhado para uma avaliação psicopedagógica.

Finalmente, o Francisco, a família e a escola tiveram oportunidade de compreender o que se passava e assim criar oportunidades de sucesso. Afinal o Francisco não era burro, nem preguiçoso, nem incapaz de aprender, nem terá um emprego precário quando for adulto. Pelo contrário!

Ele poderá vir a ter muitos êxitos ao longo da vida. Ele tem dislexia, o que significa que aprende de maneira diferente, ou seja, ele conseguirá aprender, mas às vezes poderá precisar de mais tempo para aprender as matérias da escola, vai precisar de treinar a leitura de forma explícita e estruturada, utilizando variadas metodologias que se adeqúem a si. É fundamental que se proporcionem experiências e expectativas positivas em relação à leitura, o mais cedo possível.

Ele terá direito a adaptações no ambiente de aprendizagem (sala de aula) e nos processos de avaliação, para que possa ter oportunidades de êxito iguais às dos seus colegas.

O Francisco descobriu depois que na sua sala havia uma colega que também tinha dislexia, e outro que tinha disgrafia, pois afinal duas a quinze pessoas em cada cem têm dificuldades de aprendizagem. Os pais tomaram conhecimento de uma Associação de Pais de Pessoas com Dificuldades de Aprendizagem Específicas e puderam partilhar as suas angústias, ouvir experiências e estratégias de outros pais que passaram por situações similares e que desenvolveram a capacidade de ser os defensores dos direitos dos seus filhos.

A dislexia é uma dificuldade invisível, pois quando olhamos para estas crianças e adultos, não nos apercebemos de que tenham alguma problemática, e por isso mesmo passam despercebidos e mal diagnosticados. Mas esta é uma problemática que não deve ser desvalorizada, pois interfere significativamente nas aprendizagens, nas actividades do quotidiano e no bem-estar emocional. Estas crianças necessitam verdadeiramente de um apoio específico e especializado, bem como de adaptações no processo de ensino-aprendizagem, para que consigam ter sucesso.

Não se deve aguardar por uma evolução súbita, deve intervir-se rapidamente, para não agravar as dificuldades académicas e para não surgirem consequências a nível emocional. Eles merecem vivenciar o sucesso.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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