A Casa Fernando Pessoa apresenta a tradução para português do poema lido por Amanda Gorman na Casa Branca, na tomada de posse de Joe Biden, agora Presidente dos Estados Unidos da América, pela mão da poeta Raquel Lima.
Recorde-se que a poeta e ativista Amanda Gorman, de 22 anos, encantou o mundo com o seu poema " The Hill We Climb" ("A Colina que subimos"), que ficou registado como um dos momentos altos da tomada de posse de Joe Biden e Kamala Harris, no dia 20 de janeiro.
A COLINA QUE SUBIMOS
Quando amanhece, perguntamo-nos
‘onde encontrar luz nesta interminável sombra?’A perda que carregamos, um mar para vadear.
Enfrentámos a barriga da besta.
Aprendemos que sossego nem sempre é paz,
e as normas e noções do “justo” nem sempre são justiça.
Porém, a aurora é nossa antes de sabermos.
De alguma forma a fazemos.
De alguma forma resistimos e testemunhamos
uma nação que não está falida, mas simplesmente interrompida.
Nós, os herdeiros de um país e de um tempo, onde uma miúda negra magricela descendente
de escravizados e criada por uma mãe solteira pode sonhar em tornar-se presidente, e logo
ver-se a declamar para um.
E sim, estamos longe da polidez, longe da limpidez,
mas isso não significa que lutamos por uma união perfeita.
Nós lutamos para forjar a nossa união com propósito.
Compor um país comprometido com todas as culturas, cores, feitios e condições humanas.
E assim não erguemos o nosso olhar para o que está entre nós,
mas para o que está diante de nós.
Fechamos o fosso porque colocar o nosso futuro em frente,
implica antes colocar as nossas diferenças de lado.
Baixarmos as armas para nos abraçarmos mutuamente.
Não queremos magoar ninguém, mas harmonia para toda a gente.
Deixemos o globo, se nada mais, dizer que isto é verdade:
Que mesmo enquanto sofríamos, crescíamos.
Que mesmo enquanto doía, tínhamos esperança.
Que mesmo durante o cansaço, tentávamos.
Que permaneceremos para sempre em união e vitória.
Não porque nunca mais vamos conhecer a aniquilação,
mas porque nunca mais vamos semear a divisão.
As escrituras sugerem que imaginemos que cada pessoa se poderá sentar
debaixo da sua própria vinha e figueira e ninguém a conseguirá assustar.
Se quisermos viver à altura do nosso tempo,
então a vitória não residirá na lâmina,
mas em todas as pontes que construímos.
Essa é a promessa-clareira, a colina a subir, se assim ousarmos.
Porque ser da América é mais do que um orgulho que herdamos.
É o passado em que entramos e a forma como o reparamos.
Nós vimos uma força que fragmentaria a nossa nação em vez de a compartilhar.
Que destruiria o nosso país se isso significasse a democracia adiar.
Esse esforço foi quase bem-sucedido.
Mas se a democracia pode, periodicamente, ser adiada,
ela nunca pode ser permanentemente derrotada.
É nesta verdade e nesta fé que confiamos,
porque enquanto olhamos para o futuro, a História está de olho em nós.
Esta é a era da justa redenção.
Temíamos isso desde a iniciação.
Não tínhamos ainda a preparação para herdar tão aterradora hora,
mas no seu seio, descobrimos o poder para escrever um novo capítulo,
e para oferecer, a nós próprios, confiança e sorrisos.
Assim, enquanto outrora perguntávamos ‘como é possível vencermos a catástrofe?’,
agora anunciamos: ‘Como será possível a catástrofe vencer sobre nós?’
Veja a tradução na íntegra, aqui!