Sete anos depois do seu último trabalho, Lady Gaga prepara-se para lançar um novo disco. Chromatica trás de volta a personalidade, estilo e irreverência que caracterizam a polémica cantora, de 34 anos, mas surge também como o seu trabalho mais autobiográfico.
“Não há nem uma música que não seja realidade”, disse, em entrevista à cadeia de televisão CBS, assumindo que foi o seu lado mais negro que a levou a criar este trabalho: “Abandonei-me. Odiava ser famosa, ser uma estrela. Estava exausta. A minha pior inimiga era eu mesma”. E continuou como se falasse consigo própria: “Pensei muito nisso. O meu pior inimigo está aqui. O que foste fazer? Não podes ir ao supermercado. Se sais para jantar com a família alguém vem logo ter contigo. Tudo gira sempre ao teu redor. E a tua roupa? Porque tens de ser assim?”.
Não é a primeira vez que Lady Gaga decide levantar o véu dos fantasmas que a atormentam, mas desta vez foi mais longe e assumiu que teve pensamentos suicidas: “A verdade é que não entendia porque é que tinha de viver, a não ser pela minha família” disse, confessando que durante muitos anos havia sempre alguém, amigos ou família, perto dela para garantir que os pensamentos não passavam a ações. “Era um pensamento, uma sensação real. Porquê continuar aqui?”, recorda.
O facto de ser tão seguida e fotografada piorava tudo: “Sentia pânico total por todo o corpo. Sentia-me um objeto e não um ser humano”, revela. Também em entrevista à revista Billboard, Lady Gaga falou dos problemas que chegaram com a fama. “Acordava e quando me lembrava que era a Lady Gaga ficava deprimida”.
A cantora fez terapia e isso ajudou-a a superar, mas o caminho não foi fácil. “Estava a tirar todas as cascas da cebola até chegar ao centro, mas o centro cheira mal”, contou, lembrando que nessa fase fumava cigarro atrás de cigarro, chorava muito e bebia álcool a mais, para se anestesiar. Mas nunca desistiu da psicoterapia. “A minha própria existência era uma ameaça para mim. Pensava nisso todos os dias”. No entanto, este processo tornou-a mais forte e, hoje, sente-se capaz de ajudar quem passa pelo mesmo. “Quando vejo pessoas a sofrer, como tantos sofrem agora, o meu cérebro diz-me: ‘Veste o fato de super heroína e vamos lá’”.
Outro assunto ao qual tem estado muito atenta é à pandemia. Lady Gaga tem sido uma das vozes que mais defende o uso de máscara e as medidas de distanciamento social. Na mesma entrevista disse, com humor, “estou em quarentena desde os 21 anos”.
A cantora cancelou o lançamento do disco, previsto inicialmente para dia 11 de abril, devido ao grande número de casos que afetava, já na altura, os Estados Unidos. Dedicou-se à filantropia e organizou o concerto que reuniu algumas das mais brilhantes estrelas da música para arrecadar fundos contra a Covid-19. Beyoncé, Elton John, Rolling Stones, Taylor Swift, Paul McCartney, Chris Martin e Billie Eilish foram alguns dos nomes que participaram de um concerto online sem precedentes.
Mas não foi só a pandemia que mudou a forma de pensar de Lady Gaga. A morte do afroamericano George Floyd às mãos de um polícia em Minneapolis também a levou a pensar sobre tudo o que aprendeu e fez até agora: “Quando se nasce neste país, bebeste o veneno da supremacia branca. Estou num processo de aprendizagem e de desaprendizagem em relação à maioria das coisas que me ensinaram ao longo da vida.”
A cantora criticou ainda o poder das redes sociais, sobretudo a cultura do Instagram e dos “gostos”, que leva à tentativa de acreditar numa vida perfeita. “Acho bem que se postem selfies, é divertido e também o faço. Mas temos de nos assegurar de que não dependemos disso. Há que ir muito além desse culto da beleza.