Woody Allen escreveu um ensaio íntimo em homenagem a Diane Keaton, publicado no The Free Press dois dias depois da morte da atriz, aos 79 anos, no dia 11 de outubro. O realizador, de 89 anos, recordou o primeiro encontro entre ambos e o impacto imediato que Keaton teve sobre ele.
“Quando nos conhecemos, achei-a tão encantadora, tão bonita, tão mágica, que duvidei da minha sanidade. Pensei: será possível apaixonar-me tão depressa?”, escreveu Allen.
O primeiro contacto entre os dois aconteceu durante as audições para a peça da Broadway Play It Again, Sam (1969), no Teatro Morosco, em Nova Iorque. Allen recorda que Keaton “entrou, fez a leitura e deixou-nos completamente deslumbrados”.
Keaton acabou por ser escolhida para o papel de Linda Christine e, três anos mais tarde, repetiu a personagem na adaptação cinematográfica. Durante o trabalho na peça, os dois envolveram-se romanticamente. Allen conta que lhe mostrou o filme Take the Money and Run e que ela o descreveu como “muito engraçado e muito original”, opinião que ele passou a valorizar profundamente.
Ao longo da década de 1970, Keaton tornou-se uma das suas colaboradoras mais próximas, participando em filmes como Sleeper (1973), Love and Death (1975), Annie Hall (1977) — que lhe valeu o Óscar de Melhor Atriz —, Interiors (1978), Manhattan (1979) e Manhattan Murder Mystery (1993).
Allen elogiou o gosto artístico e a sensibilidade estética de Keaton:“Apesar da sua timidez e modéstia, ela era totalmente segura do seu julgamento estético. Quer criticasse um filme meu ou uma peça de Shakespeare, aplicava sempre o mesmo padrão.”
Sobre o estilo marcante da atriz, que se tornou ícone de moda sobretudo após Annie Hall, Allen comentou: “Era um espetáculo à parte. (...) Era surpreendente que esta bela provinciana se tivesse tornado uma atriz premiada e um ícone de sofisticação.”
Refletindo sobre o fim do relacionamento, Allen escreveu: “Tivemos alguns grandes anos juntos e depois cada um seguiu o seu caminho. Porque nos separámos, só Deus e Freud o saberão. Ela acabou por sair com vários homens interessantes, todos mais fascinantes do que eu.”
Keaton manteve-se amiga e defensora de Allen, mesmo após as acusações de abuso sexual levantadas por Mia Farrow em 1992, relacionadas com a filha adotiva Dylan. Allen sempre negou as acusações e nunca foi acusado formalmente. Durante o movimento #MeToo, Keaton reafirmou publicamente o seu apoio: “Woody Allen é meu amigo e continuo a acreditar nele. Talvez valha a pena ver a entrevista do 60 Minutes de 1992 e tirar as suas próprias conclusões.”
Em 2014, numa entrevista ao The Guardian, Keaton disse sobre o realizador:
“É a pessoa mais forte que conheci na vida. Feito de aço. E com uma ética de trabalho exemplar — ensinou-me o valor de trabalhar arduamente. É o mais disciplinado que conheço, a seguir ao meu pai.”
Após a morte da atriz, Mia Farrow prestou-lhe homenagem nas redes sociais: “Foi uma atriz absolutamente maravilhosa — e uma pessoa rara e fascinante. Os meus pensamentos estão com os filhos e as irmãs dela. Descansa em paz, Diane.”







