Passaram 20 anos desde que Ricky Gervais conquistou o público na pele do egocêntrico, cobarde e solitário David Brent, em “The Office”. Uma série criada, escrita e dirigida por si, que transformou Gervais num dos mais reconhecidos atores de comédia e também um dos mais sarcásticos. Desde que foi convidado pela primeira vez, em 2011, para conduzir a apresentação dos Globos de Ouro, que no final de cada edição se diz que não voltará a apresentar. O humor mordaz e as críticas que faz e que não poupam ninguém são sempre consideradas polémicas, mas Ricky volta sempre e já apresentou cinco vezes os prémios.
“As pessoas pensam que chego lá, bebo uns copos e vou para o palco dizer coisas. Mas não, eu escrevo as piadas”, disse em 2020 ao Hollywood Reporter, o ator que já arrecadou vários prémios, entre BAFTA, Emmy e Globos. “É divertido fazê-lo assim. Na primeira vez que fui convidado pensei: ‘Tento agradar estes 200 egos privilegiados que estão aqui na sala, ou tento entreter a audiência de 200 milhões de espetadores que estão em casa e não ganham prémios?’ Não tive dúvidas de que tinha que divertir os que estão em casa. Mas há muita pressão, as piadas têm de ser à prova de bala. O mundo está a ver, não sou eu num clube de comédia. Além disso, as pessoas são todas a favor da liberdade de expressão até ouvirem coisas de que não gostam.”
Depois de vários sucessos, Ricky Gervais voltou a surpreender com “After Life”. A série, a primeira em que escreveu três temporadas – todas as anteriores têm duas –, transformou-se num caso sério de sucesso e foi a série britânica de comédia, capaz de levar o público às lágrimas em todos os episódios, mais vista na última década. Tony é um viúvo que trabalha num jornal local. Inconsolável depois da morte da mulher, com cancro, fica apenas com Brandy, o cão que era do casal. Tony pensa em suicidar-se, mas o cão precisa de comer e ele continua a sobreviver e decide dizer a toda a gente o que realmente pensa, com o sentimento de que não tem mais nada a perder.
Ricky Gervais diz que a ideia da série lhe chegou em dois minutos, a inspiração veio de um sentimento que o aflige: “Tive de pensar, o que é perder tudo? E para mim é perder a nossa alma gémea, a companheira de vida. Sou terrível. Quero partir primeiro. Sei que é egoísta, mas quero.” O ator mantém uma relação há 37 anos com a romancista Jane Fallon. Tal como a sua personagem, Ricky e a companheira não têm filhos e, em vez de um cão, têm um gato. Gervais não tem dúvidas e diz de “After Life”: “É a melhor coisa que já escrevi.”