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Internacional
Aos 72 anos, e com quase 50 de carreira, Isabella Rossellini recebe a primeira indicação aos Óscares pelo papel em “Conclave”
Isabella Rossellini Foto: DR
Redação Lux em 21 de Fevereiro de 2025 às 18:00

Desde o sedutor desempenho como cantora de um clube na consagrada obra-prima de David Lynch, 
“Blue Velvet”, em 1986, que Isabella Rossellini conduziu a sua carreira com um espírito lúdico. Do seu currículo fazem parte vários filmes de cinema alternativo, colaborações com autores experimentais ou até a participação em episódios de séries como “Friends” ou “Tales From the Crypt”.

Agora, aos 72 anos, e com quase 50 de carreira, está nomeada para o primeiro Óscar. A nomeação para Melhor Atriz Secundária deve-se ao papel de irmã Agnes, no filme “Conclave”, ao lado de Ralph Fiennes. Uma freira essencialmente silenciosa, mas intimidadora, encarregada de cuidar dos cardeais enquanto estes se reúnem para eleger um novo Papa, depois de o anterior ter morrido em circunstâncias misteriosas.

“A irmã Agnes é quase como uma sombra. Está sempre presente, mesmo quando não podemos vê-la ou ouvi-la. Felizmente, estou muito familiarizada com filmes mudos, porque quase parecia a atuação de uma estrela de cinema mudo. A Igreja Católica é uma sociedade muito patriarcal e as mulheres muitas vezes não falam, por isso, quando finalmente falo, no final do filme, parece que uma bomba explodiu”, disse em entrevista à revista Vogue.

A obra tem outras nuances sobre as quais Isabella também refletiu na mesma entrevista: “Durante toda a vida, somos obrigados a ter certezas sobre tudo, desde em quem votamos até com quem nos casamos. Ensinamos as crianças a respeitar a certeza, mas a realidade é que somos humanos e o mistério da vida é muito maior do que a nossa certeza. Muitos podem afirmar ter as respostas, mas há limites. Achei este filme uma bela ilustração desse aspeto. Eu conhecia este mundo, porque sou de Roma e frequentei uma escola de freiras”, contou. E acrescentou: “A minha família não era particularmente religiosa, exceto a minha avó, embora nem fosse à igreja. Frequentei uma escola católica em França dirigida por freiras, desde o terceiro ano até ao secundário. E em Roma é particularmente conservador, porque é onde fica o Vaticano, por isso participamos quase diariamente em debates políticos e morais ligados à Igreja. Existem os setores conservadores e os liberais: há padres corruptos e outros que não o são.”

No dia em que soube que foi nomeada, Isabella Rossellini publicou um vídeo, gravado em sua casa, e disse: “Estou aqui sentada com o poster do filme do meu pai ali atrás, onde a minha mãe entrou. Sinto tanto a falta deles, especialmente hoje… Quem me dera que estivessem aqui para ouvir estas notícias, mas talvez já saibam, já a tenham ouvido lá em cima. Esta nomeação é uma honra enorme.”

O legado que Isabella Rossellini herdou é inegável. Filha de dois conceituados nomes da indústria, o realizador Roberto Rosselini e a atriz Ingrid Bergman, a representação nunca foi imposta, mas surgiu de forma natural. Antes disso foi jornalista e modelo. As campanhas que fez para a Lancôme fazem já parte do legado da marca, numa relação nem sempre justa. Depois de ter sido o rosto da marca durante 15 anos foi convidada a sair, aos 42, por ser demasiado velha. No entanto, quando tinha 65, foi novamente convidada, dessa vez exatamente por ser uma mulher mais madura.

Numa sociedade onde os cânones de beleza estavam a mudar, também Isabella Rossellini se redefiniu: “Estou interessada em promover uma definição de beleza que seja mais feliz e alegre, e que dê a qualquer mulher, não importa a idade, a oportunidade de abraçar o seu próprio estilo em vez de seguir regras. Ser feliz é o segredo da beleza”, concluiu.

Há mais de uma década, Isabella Rossellini mudou-se para Long Island, uma ilha do estado de Nova Iorque, onde administra uma quinta. “Há 12 anos, um vizinho estava a desenvolver esta quinta, mas ficou desanimado com a subida de preços das terras agrícolas. Os agricultores deixaram de conseguir comprá-las e tudo se estava a transformar em resorts. Ele achou que eu devia investir, comprei o terreno e, com a ajuda do Peconic Land Trust, um fundo cuja missão é apoiar os agricultores, mudámos o zonamento para agricultura residencial e para o vasto oásis que é hoje.”

Na quinta, Rossellini tem uma pousada e faz criação de animais, cultiva vegetais, faz jardinagem, apicultura e dá aulas de culinária e tricô. Um estilo de vida que vai ao encontro da formação que tem em comportamento animal e que, cada vez mais, a leva a repensar a continuidade da carreira de atriz. “Ainda tenho aquele fogo para ser desafiada, mas também não tenho a certeza de quantos filmes ainda tenho em mim. Cada vez me questiono mais se deveria parar de trabalhar como atriz, ou pelo menos fazer apenas alguns projetos de vez em quando para poder realmente concentrar-me na minha fazenda. Teria que descobrir como fazer tudo funcionar financeiramente, porque estou a envelhecer. Sou mais feliz a trabalhar na fazenda com o sol a brilhar-me no rosto, por isso quero passar mais tempo a fazer isso.”

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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