A estrela de “Anora” juntou-se oficialmente à lista dos vencedores da Academia de Hollywood depois de, na primeira nomeação, ter arrecadado o Óscar de Melhor Atriz. Aos 25 anos, a sua prestação parece ter superado as das veteranas Fernanda Montenegro, Demi Moore, Cynthia Erivo ou Karla Sofía Gascón. “Ainda estou a flutuar, num estado de sonho. Foi uma noite muito, muito surreal, muito interessante e, obviamente, comemorativa e maravilhosa. Porém, acho que preciso de tempo para digerir a magnitude disto”, disse pouco depois de receber o galardão mais desejado.
Nessa noite, além do Óscar, Mikey Madison, levou também para casa a recordação de uma série de primeiros encontros com algumas das estrelas que ela própria admira. Desde logo, Emma Stone,
de quem recebeu o Óscar: “Sou uma grande admiradora há muito tempo, por isso foi muito especial. Mas conheci tantas pessoas nesta noite, é avassalador. Preciso de fazer um diário para tentar escrever tudo”, afirma ainda encantada depois de revelar o encontro com outras nomeadas. “Vi a Fernanda [Montenegro] e abraçámo-nos. E mandei uma mensagem à Demi [Moore], que adoro. É uma das mulheres mais doces e gentis que já conheci.” No discurso que proferiu, já de estatueta na mão, no palco do Teatro Dolby, Madison disse emocionada: “Cresci em Los Angeles, mas Hollywood sempre pareceu muito distante da minha realidade. Por isso, estar aqui, de pé, nesta sala, hoje, é realmente incrível.”
Além dos agradecimentos ao realizador Sean Baker, às outras nomeadas e à sua “incrível família”, a mãe, o pai, a irmã, o irmão mais novo e o irmão gémeo, que a acompanharam nesta noite, a atriz fez questão de outro agradecimento especial. “Quero reconhecer e homenagear novamente a comunidade de profissionais do sexo. Vou continuar a apoiar e a ser uma aliada. As mulheres que tive o privilégio de conhecer foram um dos destaques de toda esta experiência incrível.”
Mikaela Madison Rosberg – Mikin para a família e Mikey de nome artístico – é filha de dois psicólogos. “Devido à profissão dos meus pais, cresci a entender muito bem as pessoas e a razão de fazerem ou não certas coisas”, disse à Interview Magazine. “Acho que isso me ajudou.” Apesar de ter crescido em Los Angeles, os primeiros anos foram dedicados à competição equestre, mas, aos 14, decidiu mudar para a representação. “Lembro-me do dia em que decidi que queria parar de fazer equitação e tentar a transição para a representação. Quando contei à minha mãe, foi muito doloroso, porque senti que estava a terminar uma parte da minha vida para começar uma nova. Mas parecia-me muito necessário dedicar-me totalmente à aprendizagem da representação e produção cinematográfica.”
Aos 16 anos, conseguiu um papel de destaque como a filha mais velha de Pamela Adlon na série “Better Things”, que interpretou durante sete anos. Porém, as portas abriram-se depois de ter entrado no filme “Era uma vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino, e na quinta parte da saga de terror “Scream”. Foram esses projetos que chamaram a atenção de Sean Baker. Quando o realizador entrou em contato com Madison e lhe ofereceu o papel principal do seu próximo filme, sem audição, a atriz ficou surpreendida, mas muito entusiasmada. A preparação para a personagem que dá nome ao filme, “Anora”, começou de imediato. Madison interpreta uma jovem trabalhadora do sexo que conhece e se casa com o filho de um oligarca russo. Durante um ano, a atriz mergulhou em pesquisas sobre profissionais do sexo, visitou clubes de striptease, estudou russo, pole dance e twerking e até se mudou temporariamente para o bairro de Brooklyn, onde o filme se passa. A preparação foi deixando mazelas físicas, como nódoas negras, um tornozelo torcido ou uma cicatriz na barriga de uma cena de luta em que foi lançada contra uma mesa: “É assim que gosto de fazer as coisas. Não gosto de fazer nada pela metade. É tudo ou nada para mim. Não sei se isso é saudável ou não, é apenas a maneira como tenho de fazer algo.”
No entanto, a transformação maior aconteceu quando foi confrontada com a realidade durante a preparação para o papel. “Mudou tudo, tenho uma perspetiva completamente diferente sobre a comunidade de profissionais do sexo. Num clube, as mulheres estão quase numa posição de poder, mas fora dele, as pessoas veem-nas de uma maneira tão diferente”, disse à revista Elle. Agora, no início do que provavelmente será uma ascensão vertiginosa, Madison já está a ler guiões, à procura do próximo papel. Assume que iria adorar outra experiência tão colaborativa quanto a que teve com Baker, mas sabe que filmes como “Anora” são raros.
“É engraçado como entrei nesse estranho modo de interpretar personagens antagónicas. Adorava interpretar uma personagem que fosse parecida comigo um dia. Mas estou muito entusiasmada com o futuro, com os papéis que posso interpretar e as pessoas com quem posso trabalhar. Tenho muitos sonhos e coisas que gostaria de fazer, mas tenho apenas 25 anos. Sinto que sou uma estudante, de muitas maneiras, e que estou apenas a aprender. Este Óscar é um lembrete incrível para continuar este caminho e a aprender a crescer e a esforçar-me. E espero continuar a sentir-me uma estudante, mesmo daqui a 40 anos.”