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Internacional
Lily Gladstone faz história ao ser a primeira indígena a ser nomeada aos Óscares na categoria de Melhor Atriz
Lily Gladstone Foto: DR
Redação Lux em 23 de Fevereiro de 2024 às 18:00

A emoção tomou conta de Lily Gladstone quando recebeu o telefonema da Academia a dizer que estava nomeada na categoria de Melhor Atriz pelo seu desempenho no filme de Martin Scorsese, “Assassinos da Lua das Flores”. 

“Não pensei que fosse chorar, mas chorei. Estava ao telefone com os meus pais e chorei”, disse ao programa “Today”. “Sou atriz há muito tempo. Sou nova no mundo dos estúdios, mas faço teatro e filmes independentes há muito tempo... Achava que a minha vida ia ser passada num pequeno teatro escuro, em filmes independentes, em salas de aula, a ensinar alunos sobre justiça social e história, usando a arte de representar.” Enganou-se, e no dia em que a Academia de Cinema de Hollywood anunciou os nomeados ao tão ansiado Óscar, Lily Gladstone tornou-se parte da história da indústria ao ser a primeira mulher indígena nomeada na categoria de Melhor Atriz. “É um sonho que temos quando somos jovens, mas que parecia além de tudo o que eu poderia ter esperado.”

No filme de Scorsese, Gladstone veste a pele de Mollie Burkhart, uma mulher Osage, cujos familiares são tragicamente assassinados numa conspiração para confiscar a sua fortuna. A atriz, cuja herança inclui raízes Blackfeet e Nez Perce, afirmou ainda sobre a sua nomeação: “Este é um acontecimento histórico que não pertence apenas a mim. Estou a viver isto com todas as minhas lindas irmãs e mãe, do filme”, disse emocionada ao lembrar que, no passado, Hollywood criava línguas nativas fictícias em vez de retratá-las com precisão e autenticidade. ”Estou muito grata por poder falar um pouco da minha língua, porque nesta indústria, os atores nativos interpretam as suas falas em inglês e depois, os misturadores de som, executam-nas ao contrário para obter línguas nativas.”

Gladstone, que é também uma defensora do uso do pronome ‘eles’ desde tenra idade, afirmou em entrevista à revista People: “O meu uso de pronomes é em parte uma forma de descolonizar o género, uma forma de abraçar que, quando estou num grupo de mulheres, eu saiba que sou um pouco diferente. Quando estou num grupo de homens, não me sinto homem, não me sinto de forma alguma masculina, provavelmente até me sinto mais feminina.” E explica que esta crença quanto à identidade de género reflete a sua herança indígena. “Na maioria das línguas nativas e indígenas, não há pronomes de género. Não existe ele/ela, só existe eles”, conta a atriz que tem raízes Blackfeet e Nimíipuu e cresceu numa reserva Blackfeet em Montana.

“Lembro-me de ter 9 anos e ficar triste por ver muitos dos meus primos serem mal interpretados, porque usavam cabelos compridos. Acho que acontece com muitas crianças, especialmente meninos nativos que deixam uma comunidade onde o cabelo comprido é celebrado, e depois são provocados por isso… Enquanto Blackfeet, não temos pronomes de género, porque isso está implícito no nosso nome. Mas mesmo isso não é binário.” E recorda que o nome Blackfeet do seu avô significava “Mulher de Ferro”. “Ele tinha um nome que continha o nome de uma mulher. Nunca conheci o meu avô e não diria que não era binário em género, mas recebeu um nome de mulher porque, penso eu, comportava-se da mesma forma que as mulheres que têm esse nome.” Algo que, segundo Gladstone, se deveria estender às categorias nos prémios atribuídos pela indústria cinematográfica: “Historicamente, ter categorias de género ajudou a evitar que as atrizes fossem muito apagadas, porque acho que se tende a honrar mais as atuações masculinas… Não sei, talvez seja apenas uma coisa excessivamente semântica, mas penso que se não há uma categoria específica para realizadoras, também não deveria haver para atrizes. Não existem categorias para ‘produtora’, ou ‘cinematógrafa’”, defende. 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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