Jane Goodall, aos 91 anos, recordou como foi objetificada pelas suas “belas pernas” no início da carreira — e como transformou isso numa vantagem.

Durante a sua participação no podcast Call Her Daddy, a primatóloga e ativista ambiental refletiu sobre os desafios e conquistas que marcaram a sua vida profissional. Entre as memórias partilhadas, destacou a forma como, no início da carreira, a atenção sobre a sua aparência por vezes ofuscava o seu trabalho científico.

“Alguns cientistas homens, movidos pela inveja, diziam: ‘Ela só é conhecida porque recebe dinheiro da Geographic. Querem-na na capa. E não a colocariam lá se não tivesse umas pernas bonitas’,” contou Goodall à apresentadora Alex Cooper.

Apesar da crítica, Goodall não se deixou abalar. Pelo contrário, assumiu uma postura prática e irónica:
“Se alguém dissesse isso hoje, seria processado. Certo? Na altura, tudo o que eu queria era voltar para os chimpanzés,” afirmou. “Por isso, se as minhas pernas me estavam a garantir financiamento, obrigada, pernas. E se olharem para essas capas... eram mesmo umas pernas giras.”

Para além deste episódio, Goodall falou sobre os obstáculos que enfrentou enquanto mulher jovem com ambições de investigar em África. Recorda como foi desacreditada por muitos, por não ter dinheiro e ser “apenas uma rapariga”.

Nascida num contexto de guerra e criada num ambiente predominantemente feminino, Goodall explicou que foi a ausência de televisão e o contacto direto com o mundo natural que alimentaram a sua paixão: “Estar lá fora, na natureza” foi o que despertou o seu amor pelos animais.

Ao longo da conversa, destacou ainda o papel fundamental da sua mãe no seu percurso. Foi ela quem lhe incutiu uma atitude resiliente desde cedo: “Ela dizia: se queres mesmo fazer isto, vais ter de trabalhar muito. Aproveita todas as oportunidades. E se não desistires, talvez encontres um caminho.”