O papa Francisco e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, mantiveram esta segunda-feira um encontro privado, que se prolongou por 20 minutos, informou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
Depois da reunião, o papa e a Presidente almoçaram na casa de Santa Marta, onde estão os aposentos de Francisco, até que o apartamento papal no palácio apostólico, atualmente a ser renovado, esteja pronto.
No final do encontro, Francisco saudou a comitiva que acompanha Kirchner, a primeira chefe de Estado a ser recebida pelo cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio.
Lombardi explicou que o encontro é visto como "um gesto de cortesia e afeto" em relação à Presidente e ao povo argentinos, país de origem do papa.
O porta-voz sublinhou que não se trata de uma visita formal ou de Estado, apenas de um gesto de cortesia e de carinho em relação à terra argentina.
A relação entre o papa Francisco, até 13 de março arcebispo de Buenos Aires, e os Kirchner foi bastante tensa nos últimos anos, sobretudo depois de terem sido aprovadas as leis de despenalização do aborto e de legalização do casamento homossexual.
O antigo Presidente da Argentina e marido de Cristina, Nestor Kirchner, apelidava Bergoglio de "verdadeiro líder da oposição" devido aos alegados encontros do cardeal com líderes políticos.
A última audiência privada entre Kirchner e Bergoglio realizou-se em 2010.
Cristina Fernández Kirchner vai assistir na terça-feira à missa de início do pontificado, para a qual são esperadas 150 delegações de países.
A delegação argentina integra o ministro dos Negócios Estrangeiros, Héctor Timerman, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Ricardo Lorenzetti, o presidente da Câmara de Deputados, Julián Dominguez, e o deputado radical Ricardo Alfonsín, além de representantes da Conferência episcopal argentina e de vários partidos políticos argentinos.
Kirchner chegou a Roma pelas 16:00 locais (15:00 TMG e em Lisboa) à zona militar do aeroporto de Ciampino.
O novo papa tem conquistado a simpatia e os "media" com um estilo simples, mas ainda é perseguido pelas críticas, atribuídas pelo Vaticano à esquerda anticlerical argentina, de que se manteve silencioso durante a ditadura argentina, quando chefiava os jesuítas no país.
O Vaticano negou firmemente as alegações de que Bergoglio não protegeu dois padres jesuítas, que foram torturados pelo regime de 1976-1983, afirmando que o papa protegeu muitas vidas durante a ditadura.
Na sexta-feira, Lombardi salientou que o cardeal Bergoglio nunca foi formalmente acusado, foi "interrogado pela justiça argentina enquanto conhecedor de certos factos, mas nunca foi acusado de nada".
A controvérsia não conseguiu apagar o entusiasmo em Roma, depois da eleição do papa, a 13 de março, que fez algumas declarações pouco habituais.
Francisco pediu uma "Igreja pobre para os pobres", advertiu os cardeais contra as glórias mundanas e disse que a Igreja católica podia desmoronar-se "como um castelo de areia" se não houvesse renovação espiritual.
O líder de 1,2 mil milhões de católicos vai iniciar formalmente o pontificado na terça-feira, com uma missa na praça de São Pedro, para a qual as autoridades municipais esperam um milhão de pessoas.
O cardeal argentino jesuíta Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, foi eleito papa na quarta-feira num conclave que reuniu 115 cardeais em Roma, escolhendo o nome de Francisco.
Francisco sucede a Bento XVI e é o 266.º papa da Igreja Católica.
LUSA