O que aconteceu a Maddie McCann na noite em que desapareceu, com 3 anos, no aldeamento onde passava férias com os pais, na Praia da Luz, no Algarve, pode estar próximo de ser desvendado.
Para Kate e Gerry McCann, os acontecimentos da última semana reacenderam a esperança de voltar a ver a filha com vida, um cenário que a polícia alemã descarta.
“Assumimos que a menina esteja morta”, disse o responsável alemão pela investigação, sem dar mais explicações. Ansiosos e à espera de novidades a qualquer instante, o casal britânico falou através do seu porta-voz, revelando como está a viver este momento: “Tudo o que sempre desejámos foi encontrá-la, descobrir a verdade e levar os responsáveis à justiça. Seja qual for o resultado, necessitamos saber o que aconteceu, pois precisamos encontrar a paz.”
Treze anos depois do rapto, há elementos concretos e não apenas suspeitas que levam as polícias britânica e alemã a acreditar que Christian Brueckner, um alemão que viveu em duas casas perto do aldeamento turístico onde os McCann passavam férias, será o responsável pelo desaparecimento de Maddie.
A polícia sabe que o indivíduo, que se encontra atualmente a cumprir pena de prisão na Alemanha, por abuso sexual de menores e violação de uma idosa no Algarve, terá entrado no apartamento alugado por Gerry e Kate McCann, enquanto Maddie e os irmãos gémeos dormiam, com o intuito de o assaltar. O rapto não estaria planeado, mas, por motivos desconhecidos, acabou por acontecer.
Os alarmes soaram quando numa conversa num bar com um amigo, Christian Brueckner, de 43 anos, afirmou saber “tudo o que tinha acontecido a Maddie”, dando a entender que tinha estado envolvido no caso. A seguir mostrou um vídeo dele a violar uma mulher. O amigo fez queixa às autoridades alemãs que, entretanto, revelaram pormenores sórdidos sobre a vida deste homem, que esteve no local do crime, na noite de 3 de maio de 2007. Há também um telefonema à hora do desaparecimento de Maddie e a mudança do nome do registo de um dos dois automóveis de que era proprietário – um Jaguar XJR 6 e uma Volkswagen T3 Westfalia, onde dormia em 2007, e cujo paradeiro a polícia procura, pedindo a ajuda da população. Pouco tempo depois, saiu de Portugal.
Para além dos assaltos a hotéis e casas de férias e tráfico de drogas, sabe-se agora que Christian Brueckner era mais perigoso do que aparentava. Num quiosque que explorava, em Braunschweig, Alemanha, tinha por hábito oferecer peluches às crianças que por lá passavam a caminho da escola primária, e permitir que crianças com apenas 9 anos trabalhassem para ele. Foi na altura, em 2014, que durante uma conversa entre funcionários se exaltou de forma inesperada. O tema era o caso Maddie
McCann.
“Perdeu completamente a cabeça! Queria que acabássemos com o tema e gritou: ‘Parem de falar sobre isso. A criança está morta e pronto. Os porcos também comem carne humana’”, garante Lenta Johlitz, antiga funcionária do quiosque.
Naquele tempo, Christian vivia com uma rapariga de 17 anos, que, segundo a imprensa alemã, era maltratada e estrangulada, acusações que foram corroboradas por um homem que conheceu o suspeito em 2012.
Numa corrida contra o tempo, uma vez que o suspeito pode sair brevemente em liberdade, pois aguarda o resultado de um recurso apresentado contra a sentença, a polícia deposita esperança em encontrar uma mulher que terá estado com Christian Brueckner na altura do crime.
Para além dos desenvolvimentos no caso de Maddie, a polícia britânica, em conjunto com a Polícia Judiciária portuguesa e a polícia alemã, acredita que o alemão está ainda relacionado com a morte de uma adolescente, em 1996, e o desaparecimento de outras duas crianças, cujo paradeiro nunca foi descoberto. É o caso de Carola Titze, encontrada morta em 1996, seis dias depois de ter desaparecido do resort belga onde passava férias com a família; René Hasee, um rapaz de nacionalidade alemã, que desapareceu em Aljezur a 21 de junho de 1996; e Inga Gehricke, a menina alemã, de 5 anos, que desapareceu na Alemanha a 2 de maio de 2015.
Sem certezas de nada, e apenas agarrados à esperança, Gerry e Kate McCann revivem o episódio que tragicamente marcou as suas vidas, solidários com os pais das outras crianças que poderão ter desaparecido às mãos de Christian Brueckner.