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Nacional
Alta Costura por Filipa Guimarães: 'O negacionismo bateu-nos à porta'
Alta Costura na Lux por Filipa Guimarães, jornalista e escritora Foto: Carlos Ramos
Redação Lux em 1 de Abril de 2021 às 18:00

O NEGACIONISMO BATEU-NOS À PORTA por Filipa Guimarães

O negacionismo bateu-nos à porta, quando até estávamos “bem” em termos de aceitação das recomendações de etiqueta sanitária. Porém, o movimento dos negacionistas da Covid-19 (ou da forma como está a ser gerida, como defendem alguns) tomou corpo e juntou-se também em Lisboa, no passado fim de semana. Quem viu a manifestação podia até acreditar que era um movimento pacifista do fim dos anos 60. Uns cantavam nos pés das estátuas, outros empunhavam cartazes contra o que dizem ser uma “ditadura”. Nessa demonstração de revolta contra semanas de confinamento víamos os polícias protegidos e os manifestantes em alegre cavaqueira. Desafiadores do plano de confinamento, negam as evidências científicas e ignoram, certamente, que é com alívio que os profissionais de saúde estão a ver a curva a descer. O fenómeno do negacionismo não é novo nem original: repete-se por todo o mundo. É, aliás, uma tendência com outros “ramos”: existe quem defenda que o Holocausto nunca existiu, que as alterações climáticas não são causadas pelo homem ou que a sida não existe ou não está relacionada com o HIV. Em relação ao coronavírus que nos atormenta, existem vários tipos de negacionistas também: os que pensam que os custos sociais não justificam o confinamento, faseado ou não, e os que pura e simplesmente desconhecem (se for preciso, até com orgulho) os factos. Acreditam no que creem sem perceber que negam uma realidade cuja dimensão nem lhes interessa conhecer. Nesta altura, com muitas vacinas da primeira fase ainda por dar, a demonstração de descontentamento em Lisboa não foi prudente. Sob o lema do “direito a correr riscos”, as pessoas esquecem-se da velha máxima de que a nossa liberdade acaba quando a do outro começa. No Brasil, onde o fenómeno é de uma escala muito superior, existem pessoas que deixaram de ser negacionistas a “meio” da pandemia. Os motivos são os óbvios: ou contraíram o vírus ou perderam alguém próximo. Mas é triste que num mundo tão tecnológico e com acesso a tanta informação, ainda se escolha o caminho da ignorância.

Crónica publicada na revista Lux 1091, de 29 de março

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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