O músico Pedro Abrunhosa edita na segunda-feira o álbum «Contramão», com canções feitas de «muita dedicação, pouca inspiração e uma observação da realidade» portuguesa, como a emigração e a crise, disse à agência Lusa.
Gravado no Porto com a banda Comité Caviar, o disco contou com as participações do fadista Camané, do cantor catalão Duquende, do Saint Dominic Choir e do Quarteto de Cordas de Matosinhos.
Sétimo álbum de originais, «Contramão» é o resultado de uma nova «observação da realidade»: «Sou movido pela realidade. O fio condutor é a autoralidade, essa cúpula sob a qual tudo brota», explicou.
Essa observação da realidade reflete-se, por exemplo, em «Para os braços da minha mãe», interpretado com Camané, uma música que «fala desta novíssima geração que emigra, porque é empurrada».
«Entregámos o poder às pessoas erradas. A situação em que nós estamos só prova é que fomos mal dirigidos», criticou.
Do alinhamento faz parte também «Toma conta de mim», que «apela àquilo que a espécie humana faz: tomar conta uns dos outros»: «Uma das formas de sobreviver no meio desta crise é a humanidade. Não digo solidariedade, digo humanidade entre as pessoas».
Se em «Luz» (2007), Pedro Abrunhosa escreveu sobre a morte de um transsexual no Porto, agora dedica um tema ao «Senhor do Adeus», ao homem solitário que passava os dias a acenar às pessoas no meio das ruas de Lisboa: «Um dos personagens mais poéticos que se cruzou na minha vida, embora eu nunca o tenha conhecido».
Pedro Abrunhosa, que inicia uma nova digressão com um concerto na passagem-de-ano em Lisboa, tem 52 anos e cumprirá em 2014 os vinte anos da edição do primeiro álbum, «Viagens», um dos de maior sucesso da carreira, que inclui ainda «Tempo» (1996) ou «Silêncio» (1999).
«Comemorar é alguma coisa que me recusarei a fazer. Não tenho nada que comemorar. O que é relevante é que as pessoas querem ouvir as músicas de todos os discos», afirmou, resumindo de seguida: «Continuarei a fazer canções até morrer e se mantiver a lucidez e a clareza de espírito para tal».
Lusa