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Nacional
Alta Costura por Filipa Guimarães: 'Onde é que para a polícia?'
Alta Costura na Lux por Filipa Guimarães, jornalista e escritora Foto: Carlos Ramos
Redação Lux em 4 de Fevereiro de 2021 às 18:00

'Onde é que para a polícia?' por Filipa Guimarães


“A senhora é polícia?”, disseram-me, mais do que uma vez, por recomendar a alguém que ponha a máscara. Aconteceu-me no dia das eleições, em que todas as recomendações, advertências e exortações foram dadas: pôr a dita cuja, ou até duas! Mas parece que os avisos não chegaram aos ouvidos ou consciências de todos. De minha casa até à assembleia de voto, a cerca de um quilómetro de minha casa contei 15 pessoas. Dez delas estavam sem máscara. Numa caminhada tão curta e em segundo confinamento, ainda há pessoas que acham que a pandemia não é com elas. Os estrangeiros parece que têm algum visto especial para poderem estar à vontade num país que, para eles, deve ser de “totós”. Faço-lhes o gesto com a mão, para que usem proteção e, eles, fazem de conta. Mas o pior de tudo, e espero que alguém da PSP leia isto, foi ver dois agentes em frente à esquadra do Rato (bem no centro de Lisboa) a conversarem à porta, sem distanciamento nem nada à frente da boca. Como ia votar, não quis arranjar problemas nem ter aborrecimentos. Porém, a minha vontade foi perguntar-lhes: “Como é que se multa a polícia?” Algo ainda corre mal neste segundo e mais difícil confinamento. Se as pessoas não cumprem, a polícia, chamada de Segurança Pública com algum fundamento, faz o quê? Não percebo. Todos temos as nossas histórias para contar, mas a minha experiência, de cada vez que “ouso” sair à rua mostra-me uma sociedade com um longo caminho por fazer, no que toca ao civismo. É porque custa observar isto nas ruas, ao mesmo tempo que leio o número de mortos que nunca mais desce e os cartazes tão bem feitos de enfermeiros, médicos e doentes nas paragens dos autocarros. Só quem for cego não vê, mas a pior e mais perigosa cegueira, sabemos, é a de quem não quer ver. Neste momento, isso já se chama egoísmo e falta de consideração por quem, com tanto sacrifício e risco, respeita tudo. Há quem diga que essas pessoas mereciam ficar num registo para que, no caso de virem a precisar de uma cama, não sejam atendidas. Mas onde é que para a polícia? É tão raro ver algum! Já estive muito mais longe de pensar que quem não colabora devia ser multado e, quem sabe, até mesmo impedido de sair de casa. Como uma lição de civismo, como as que existem para os agressores e outras pessoas com comportamentos desviantes. Fica a deixa. Isto não pode continuar assim.

(Crónica publicada na Lux 1083 de 1 de fevereiro de 2020)

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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