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Nacional
Redação Lux em 4 de Maio de 2023 às 12:13
Museu do Teatro assinala 30 anos de espetáculo: Lembra-se da Tuxa, da Kika e da da Babá?

Foi há precisamente 30 anos, -a 5 de maio de 1993 - que a estreia de Vida de Artista ou A Verdadeira História de Barbi, no Teatro Maria Matos, agitou Portugal com um género artístico inovador e a partir do qual se começou do travestismo como técnica teatral. As Barbis percorreram durante anos as salas do País com espetáculos que se iam renovando.

Três décadas depois, a peça “regressa” em jeito de homenagem com a entrega do espólio (guarda-roupa, cartazes, artigos de imprensa, fotografias, panfletos...) ao Museu do Teatro. Este evento – com a presença dos atores e a passagem de excertos da peça nos ecrãs - está agendado para 5 de maio de 2023, pelas 18h30.

As Barbis, da autoria de José Pinto Correia, direção artística de Alexandre de Sousa (encenador) e Miguel Abreu, diretor da produtora Cassefaz (e ator), revolucionou Portugal numa época em que a imitação social ganhou autenticidade. “Quando no início dos anos 90, três homens sobem ao palco, vestidos e caracterizados de mulheres e personificando três senhoras burguesas com os seus dramas e complexos, levamos direta e indiretamente a temática do travestismo ao País”, explica Miguel Abreu.

Na altura da estreia, Portugal acabara de sair do universo de apenas dois canais televisivos (a SIC e a TVI nasceram em 1993 e 1994 respetivamente); não existia internet, telemóveis e consequentemente redes sociais. A moeda portuguesa era o escudo. “Foi há 30 anos mas parece que estamos a falar de outra dimensão. Este espetáculo teve uma dimensão política enorme; foi possível os homossexuais sentirem-se à vontade para irem com as suas famílias assistirem ao espetáculo, que ali riam e batiam palmas descontraidamente, sem se esconderem, reconhecendo e legitimando o travestismo como técnica teatral, com dignidade teatral” acrescenta Miguel Abreu.

As Barbis são as “tias” da alta sociedade portuguesa; mulheres burguesas, ricas e com filhos, personificadas pela Tuxa (Miguel Abreu), uma mulher conservadora que descarrega a tensão sexual no fervor religioso e num consumo assolapado de chocolates; a Babá (F. Pedro Oliveira), que se confronta com a traição do marido e contrata um homem para empregado doméstico e a Kika (Paulo Ferreira), considerada a vamp e a toura do grupo.

A Vida de Artista ou a Verdadeira História de Barbi subiu aos palcos pela primeira vez às 22h30 do dia 5 de maio de 1993. O sucesso conduziu as Barbis a diversas salas do País e ao longo dos anos, a peça foi reinventada e adaptada a novas realidades. (Outra Vez as Barbies ainda em 1993, O Poder das Barbis em 1997 e 2001- A Odisseia das Barbis em 1999). Em 2013, a Cassefaz celebrou os 20 anos de Barbis levando aos palcos do Casino Lisboa e Teatro São Luiz, em Lisboa, o espetáculo na sua primeira versão. Foi a última vez que a Tucha, a Kika e a Babá se reuniram. Para assinalar os 30 anos da peça que agitou a sociedade portuguesa, F. Pedro Oliveira, Paulo Ferreira e Miguel Abreu voltam a reunir-se com o público no Museu do Teatro.

As Barbis foram produzidas pela Cassefaz, produtora de espetáculos que saltou para a ribalta quando apresentou O Cabaré das Virgens em 1990. Foi aliás, nesta altura que as atenções se voltaram para a temática do travestismo quando homens vestiam a pele e o papel tradicional das mulheres nos palcos portugueses. Mas foi com as Barbis que o País se agitou, conduzindo milhares de pessoas às diversas salas por onde passaram.

Recuando aos anos 90 do século XX, Miguel Abreu, da Cassefaz, recorda:"Houve uma altura em que as discotecas tinham noites de streap tease masculino exclusivamente para mulheres. E os maridos iam levá-las e buscá-las à saída, mas a noite era delas; por isso, a nossa estreia, em 1993, foi aberta também, exclusivamente, a senhoras, para que pudessem apreciar livremente o desnudar do empregado GER ...enfim, era nossa intenção provocar sentimentos de libertação, nas mulheres, nos gay, em quem se sentisse, afinal, preso ou limitado, na sua liberdade sexual. Não por libertinagem, mas por direito próprio à afirmação  dos seus direitos sexuais”.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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