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Nacional
Alta Costura por Filipa Guimarães: 'Quem quer saber da verdade?'
Alta Costura na Lux por Filipa Guimarães, jornalista e escritora Foto: Carlos Ramos
Redação Lux em 5 de Novembro de 2020 às 18:00

QUEM QUER SABER DA VERDADE? por Filipa Guimarães

Já não nos bastavam as “fake news” (notícias falsas) apareceram agora as “deepfakes” (vídeos alterados por tecnologias digitais). É verdade que os riscos da tecnologia e da inteligência artificial andam a ser cada vez mais falados. O problema é que a velocidade da tecnologia para manipular a realidade é maior do que a nossa capacidade de a controlar. Pior ainda, com as ferramentas ou aplicações de montagem cada vez mais baratas e acessíveis, não estaremos longe da democratização desta atividade, nem sempre usada com a melhor das intenções. O alerta (mais um) foi dado pela revista Mother Jones, especializada em desmontar e denunciar campanhas de desinformação, ao rubro nesta altura sensível de eleições nos EUA. Como sempre, as celebridades e os políticos são os principais alvos da distorção. Mas não é apenas por gerarem mais interesse junto do público. Como existem muitos registos destas pessoas, estas fornecem mais material para manipular. Os exemplos já são muitos e podemos vê-los no YouTube. Basta pesquisar por “deepfake”, que aparece logo uma longa lista de vídeos de rostos conhecidos. Num deles, podemos ver o ator Bill Hader a transformar-se em Arnold Schwarzenegger, não só física, como vocalmente. Também a princesa Leia, da saga “Star Wars” muda de cara, assim se lhe pusessem uma máscara. Para alguns aficionados da famosa saga de Hollywood, esta manipulação foi um balde de água fria. E, se umas “deepfakes” querem mesmo enganar o espetador, outras têm apenas uma função lúdica. Em qualquer dos casos, as consequências podem ser graves. Daqui a uma semana, talvez venhamos a conhecer vídeos e declarações falsas de Trump ou Joe Biden. Há dois anos, o departamento de Ciências da Computação da Universidade de Washington, fez um vídeo demonstrativo de Barack Obama, a dizer uma coisa que não tinha dito. Estes políticos estão agora nas bocas do mundo, mas outras pessoas estarão no futuro. Não pensemos que isto vai acontecer só em ensaios tecnológicos inofensivos e só para os poderosos e mediáticos. Com a quantidade de selfies e fotos com que um utilizador “normal” publica nas redes sociais, é muito provável que, num tempo não muito distante, exista material suficiente para que qualquer um de nós possa ser usado como fonte. E com menos meios para combater os eventuais estragos que isso possa trazer às nossas vidas.

(Crónica publicada na revista Lux 1069 de 2 de novembro)

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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