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Nacional
Ministro da Cultura de Cabo-Verde reage negativamente a pedido de ajuda feito por Rita Pereira
Rita Pereira
Redação Lux em 7 de Maio de 2020 às 14:12

O ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente, fez um post público para demonstrar o seu desagrado com o pedido que Rita Pereira fez de apoio para os cabo-verdianos devido à covid-19 por causa da referência que a atriz fez à "fome" naquele país.

A atriz tinha feito eco de um pedido do cantor cabo-verdiano Nelson Freitas que criou um fundo de ajuda a Cabo Verde, o One Cabo Verde, numa story do Instagram:

"Há crianças a morrer de fome, mesmo aqui ao nosso lado, num país para onde os portugueses vão de férias, ser felizes e aproveitarem aquelas praias incríveis. Eu sei que há muitas pessoas em Portugal também a passar por isto, mas também há muitos cabo-verdianos a viver aqui. Se vocês puderem ajudar podemos fazer a diferença", referiu Rita Pereira fazendo um apelo à contribuição dos portugueses.

O ministro da cultura considerou que Rita Pereira tocou num tema "muito sensível para os cabo-verdianos" de "forma superficial" e enumerou num longo post os ciclos de fome e morte na história de Cabo Verde.

"Querida Senhora Rita Pereira estou muito sensibilizado com o seu vídeo e a sua preocupação com Cabo Verde. Mas quero que saiba que ninguém está a morrer de fome em Cabo Verde. Quero que saiba que “fome” é um tema muito sensível para os cabo-verdianos e agradecíamos que não se tocasse nele assim de forma tão superficial. Caso não saiba Cabo Verde ao longo da sua história passou, de facto, por vários ciclos de fome e morte. Ficamos marcados pela perda e pelo desaparecimento de famílias e gerações. Da segunda metade do século XVIII (18) aos anos 50 do século XX (20) calcula-se, por alto, que terão morrido mais de 120 mil cabo-verdianos de Fome. Entre os anos de 1854-56 cerca de 25% da população do arquipélago morreu, também devido à fome. As fomes de 1941-43 e 1947-48, mataram cerca de 45.000 pessoas. Entre 1946-48, a ilha de Santiago perdeu 65% de sua população quer pela fome, quer pela emigração em massa, nomeadamente para S. Tomé. Posto isso, e peço ajuda ao nosso conterrâneo Nelson Freitas (que com certeza tinha as melhores das intenções), que lhe passe a seguinte mensagem: é certo que ainda temos pobreza, temos famílias que precisam de auxilio do estado e da comunidade mas podemos dizer taxativamente que após a independência de Cabo Verde (1975), graças a um esforço colectivo do nosso povo, dos nossos emigrantes e dos nossos parceiros internacionais conseguimos erradicar essa fome que mata crianças e velhos e que deixa cicatrizes na pela da nação.
Sem mais, envio-lhe um abraço em nome de todos os cabo-verdianos e peço-lhe que retire o vídeo onde diz que há crianças a morrer de fome em Cabo Verde. Cuide-se, use máscaras ao sair de casa e mais uma vez obrigado pela sua preocupação".

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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