Imparável, entusiasta, cheia de energia, fôlego e encanto. É assim que Margarida Pinto Correia, desde 2017 diretora de Inovação Social da Fundação EDP, abraça mais um desafio, regressando à televisão como novo rosto do programa “Raio X”, no Canal S+. Pretexto perfeito para conversar com a jornalista, atriz, ativista social e deixarmo-nos inspirar pelo seu percurso, experiências e estilo de vida.
Lux – Como surgiu esta oportunidade e o que podemos esperar do programa?
Margarida Pinto Correia – Surgiu como uma surpresa, um desafio do canal, depois de a minha antecessora, a Ana Sousa Dias, ter seguido para outras quimeras. Pode-se esperar uma conversa intimista, calma, curiosa, pessoal. Olhos nos olhos, uma abordagem à visão daquela pessoa sobre saúde e bem-estar na sua área. Uma versão menos formal e mais humana da pessoa atrás do cargo – são normalmente figuras de destaque no panorama nacional, ou figuras que queremos destacar, nos bastidores da saúde e bem-estar em Portugal. Será uma partilha de posturas e ideias, estórias e conceitos, pelo fio condutor da personalidade do convidado!
Lux – Qual o maior desafio em regressar à televisão?
M.P.C. – Resistir-lhe. Tudo o resto é-me natural, e sabe-me muito bem.
Lux – Ainda se lembra do seu maior receio quando se estreou em televisão, no “Vivá Música” ou no “Caderno Diário”?
M.P.C. – Não tinha muitos receios técnicos, ou de não conseguir: tinha receio do que é que “os outros iam achar”, em geral. Gosto sempre de ouvir opiniões, porque acredito que só daí posso crescer, ainda hoje. Quando tudo se cala à minha volta, fico convencida que deve ter sido muito mau e me estão a poupar! E essa insegurança, meio infantil, faz parte de mim.
Lux – Já passou por tantas experiências profissionais. O que mais a marcou?
M.P.C. – O que mais retenho é o que me transforma. Na televisão foram sobretudo as pessoas, e o sublime prazer dos diretos. O impacto que criamos com um olhar, com uma câmara ligada, é incrível e sabe-me bem, porque o respeito e lhe conheço os contornos, mas nunca os conhecemos a todos. É um bocadinho como o mar: respeitar e saborear ao mesmo tempo. Ir entrando, ir aprofundando, mas sempre em enorme respeito pela força bruta do ‘monstro’. Retenho o que me marcou de bom e mau. As reações dos outros. A gratidão de alguns, ou o efeito que teve na vida deles. Retenho o que já não faço da vez seguinte, porque aprendi que não resulta... Marcou-me muito o “Caderno Diário”, porque as reações eram formidáveis, os miúdos gostavam e queriam mais, e os graúdos confessavam que, por fim, estavam a perceber o jornal quando chegavam às 20h… foi um desafio incrível, poder explicar as notícias em ‘descomplicómetro’! E os jornais, claro, porque eram sempre diferentes. Nos jornais de sábado (RTP 1992/3/4) começámos, na altura, a fazer diretos de lugares marcantes daquela semana, e essa adrenalina, essa entrega e pertença ao momento eram viciantes e muito desafiantes. Em relação a outros desafios, claro que me marcaram reportagens de rádio e televisão, a imensidão da Antártida e dos desertos. Marcaram-me os anos seguidos de rádio, que é a coisa mais perfeita de “continuação de mim”. Marcou-me a Fundação do Gil, a forma como a construímos e fizemos crescer, o impacto que tinha, e tem, na vida de milhares de crianças, nas suas famílias e, por isso, na nossa sociedade e comunidades PALOP. Isso sim era sentido de entrega e de transformação. Depois marcaram-me, também, as hipóteses de gente incrível que fui podendo conhecer por causa do trabalho, em TV, revistas, jornais, rádio e no mundo social. É muito bom poder ter uma vida profissional que nos leva a cruzar permanentemente com gente inspiradora. E ainda, no teatro e na ficção… marcou-me a forma como me sinto inteira na pele dos outros! Adoro, adoro, adoro.
Lux – Como orienta os seus filhos a nível profissional? Qual é o maior conselho que lhes dá?
M.P.C. – Que se sintam inteiros, que sigam o que os preenche. Quando me dizem “mas esta área, se calhar, não tem saída”, digo-lhes aquilo em que acredito mesmo: hoje em dia, o que tem saída somos nós. São as pessoas, pela diferença que fazem naquilo que são. É a sua unicidade e a forma como se entregam. Haverá milhares como eles, com a formação deles, a querer fazer o que eles quiserem. Só alguns se destacam, só alguns são felizes a fazer o que querem. Então, que seja por isso, por serem especiais, por serem eles próprios, e por se sentirem úteis e transformadores dos outros, para melhor! E que não parem nunca de se formar, de se construir, de acrescentar-se.
Lux – Qual é a sensação de ter filhos já “crescidos”, “fora de casa”? O que muda?
M.P.C. – Muda a vida inteira. Os ritmos, os silêncios. Muda não os ter em casa, muito, mas o que nunca muda é a nossa permanente ligação de sexto sentido, a nossa infatigável vontade de que lhes corra tudo bem, de que estejam bem, o nosso cuidado. Isso não muda nunca.
Lux – Que relação tem com a sua imagem? Como tem lidado com a passagem dos anos nesse sentido?
M.P.C. – É uma relação esquisita! Sempre achei que não me ia importar nada, mas importo. A força de gravidade é uma chatice! Mesmo estando em forma, sentimo-nos mudar sem poder fazer nada. E na cara, com que me choco às vezes, verdadeiramente surpreendida no espelho, é tramada! Ainda por cima, pessoas como nós, que andamos expostos há muitos anos, temos acesso a boas fotos de nós antes, “xxxiiiiiii, tão novinha….” Grrrr! Não me importo propriamente de envelhecer, mas reajo muito mais do que pensava ao facto de piorar o aspeto. Adorava ter umas pinças mágicas a puxar a cara para cima, mas na inexistência, olha, é lidar! Tenta-se tratar bem, cuidar e seguir bons conselhos, continuar a mexer o corpo e a iluminar a alma, rir muito e saborear momentos e belezas nos outros e no mundo. A sério, acho mesmo que isso nos ajuda a viver e, por isso, a envelhecer. Isso, e claro, a gratidão de olhar à volta e estar bem. Ter saúde e ter abraços. Às vezes, distraio-me, o espelho apanha-me desprevenida, e assusto-me mesmo: parece que não correspondem, o que nos vai por dentro e a cápsula-corpo em que se passeia!
Lux – Pode descrever-nos o ritmo do seu dia a dia?
M.P.C. – Ficavam cansados! Mas é como o de toda a gente que trabalha… levanto-me cedo, passeio o cão, vou trabalhar. Tenho dias de estrada, com muitos projetos na Fundação EDP, que fazem com que ir e vir, ali assim a Bragança ou a Campo Maior, seja normal. Dias de escritório e computador, e dias de virote em que se metem gravações de rádio (Antena 1, “Encontros Imediatos” com o João Gobern) e agora de TV, visitas a família e amigos ou ações de formação, congressos, conferências. Ginástica três vezes por semana… lembrar-me de logística a meio do dia: qualquer coisa que falta tratar, compras, filhos… e o prazer de voltar a casa, de jantar no ninho, de saber como foram as aventuras dos outros. Sabe-me bem o passeio canino noturno, para repor níveis e gerar alguma paz. Os meus pais saíam sempre a seguir ao jantar, para dar uma volta a pé, e sempre achei isso de uma sabedoria invejável. Agora consigo fazê-lo e gosto muito. Às vezes, se fui ao teatro ou ao cinema ou ter com amigos, esse passeio é tardio. Pode encurtar, mas nunca desaparece.
Lux – Que estilo de vida privilegia?
M.P.C. – O do bem-estar, o de sentir os outros bem à minha volta. O de respirar fundo para que tudo se enquadre. O da compaixão, de me pôr no lugar dos outros, de perceber porquê. O de rir e celebrar, e o de abraçar. O de passear – tenho espírito de índio…
Lux – Quais são os seus hobbies?
M.P.C. – Confundo-os. Às vezes, sinto que são uma linha de
Excel, porque ficam escondidos. A rádio e a TV são uma mistura de dever e prazer que me é permitida quando giro o que tenho de fazer na fundação…serão hobbies? Andar a cavalo, fazer chi kung, andar a pé ou de bicicleta, ler, ver teatro e cinema, estar com amigos, assistir a concertos… serão hobbies?
Lux – Como é um fim de semana perfeito?
M.P.C. – Em paz. Pode ser na loucura de uma festa a dançar até às quinhentas, ou a passear a pé numa falésia. Pode ser a arrumar e a revirar a casa, pode ser a trabalhar (são muitos) em ações de comunidade, pode ser a descansar (gostava que fossem mais), a visitar outros que precisam e querem, ou só a ficar quieta. Muitos destes são perfeitos, se estiver em paz. Muitos destes se estragam por estar angustiada com alguma coisa, ou em guerra com algum momento.