Prometia ser polémica e cumpriu todos os requisitos. A entrevista de Meghan Markle
e do príncipe Harry a Oprah Winfrey foi transmitida pela CBS e obrigou os funcionários do palácio a estarem acordados noite fora, devido à diferença horária entre os EUA, onde vivem os duques, e Inglaterra.

De manhã, durante o pequeno-almoço, a rainha ficou a conhecer todos os pormenores das declarações que arrasaram a família real. Não se conhecem ainda as verdadeiras consequências desta entrevista para a coroa, mas se, para Harry e Meghan, o abismo com a família real já era enorme, muito dificilmente será sanado depois desta entrevista, já considerada pela imprensa inglesa como uma atitude premeditada, de vitimização, e vingativa por parte dos duques.

Na conversa, que começou sem Harry, Meghan falou a Oprah de uma realidade em que se sentia completamente prisioneira: “O dia em que me juntei à família real foi o último em que vi o meu passaporte, a minha carta de condução, as minhas chaves… tiraram-me tudo”, conta Meghan, que assumiu a sua ingenuidade em relação à família real, dizendo não saber nada sobre eles ou sobre o agora marido. Contou que ficou chocada por saber que tinha de fazer uma vénia quando estava com a rainha e que foi Sarah Ferguson quem a ensinou: “Não tinha noção de qual era o trabalho de um membro da família real, do que faziam. Nunca romanceei nada, mas ali nada é o que parece. E muitas vezes as pessoas da Firma me diziam ‘não podes fazer isto ou aquilo, porque pode parecer mal’. Não me deixavam sair ou almoçar com as minhas amigas. Era só não, não, não”.

Com a nova realidade a mostrar-se “insuportável”, Meghan, sem conter as lágrimas, contou como, aos seis meses de gravidez, começou a ter pensamentos suicidas por sentir-se desprotegida e abandonada pela família real, perante os abusos da imprensa britânica.

“Tudo aquilo estava a acontecer só por eu respirar. E eu, simplesmente não queria estar viva. E foram pensamentos constantes, aterradores, reais e muito claros.”

Meghan diz que implorou a um membro da família real, que a ajudasse a encontrar um especialista: “Disse que precisava de ajuda, que nunca me tinha sentido assim. Responderam-me que não podia, que não seria bom para a instituição.”

Meghan disse ainda que não contou logo a Harry, por saber o que ele tinha sofrido com a perda da mãe, mas que quando o fez, “ele embalou-me”. Durante a entrevista, Oprah questionou Meghan sobre o episódio em que teria feito Kate chorar, ao que a duquesa respondeu: “Não, foi ao contrário e não quero ser depreciativa com a Kate, porque eram as vésperas do meu casamento e eu estava a ter uma semana muito difícil. Ela ficou incomodada com algo relativo às meninas das flores e fez-me chorar, porque magoou os meus sentimentos. Mas não acho justo entrar em pormenores, porque ela fez o que eu teria feito numa situação daquelas. Pediu-me desculpa e enviou-me flores.”

No entanto, Meghan não esconde que ficou muito magoada por ninguém na família real, sobretudo Kate, querer esclarecer a versão que os jornais já tinham entretanto espalhado. ”O que foi difícil foi estar a ser culpada por uma situação que não provoquei e que me aconteceu a mim.”

Porém, a mais grave de todas as acusações feitas por Meghan tem a ver com atitudes racistas, por parte da imprensa, mas também da família real. A duquesa apontou mesmo esta como sendo a razão principal da saída do casal de Inglaterra e afirmou que experimentou mais negatividade do que a duquesa de Cambridge:

“À Kate apenas chamavam, ‘Kate em espera’, porque estava à espera de ser pedida em casamento pelo William. Imagino que foi difícil e o que terá sentido, mas não é a mesma coisa. E os
membros da família real disseram-me que ‘todos tivemos de passar por comentários rudes’. Só que rude e racista não é a mesma coisa. Além disso, há uma equipa de imprensa que defende a família quando algo não é verdade. E isso nunca aconteceu connosco.”

Meghan considera que esta diferença de tratamento se prende com a sua cor de pele. A antiga atriz diz que também houve questões racistas com o filho e contou que, quando estava grávida de Archie, surgiu a questão da cor da pele: “Foi dito ao Harry… houve várias conversas sobre esse assunto, sobre quão escura seria a pele do nosso filho.”

A duquesa de Sussex contou ainda que vários elementos da família real questionaram o estatuto de príncipe, e puseram em questão a possibilidade do bebé ter direito a qualquer título ou a segurança própria, caso nascesse com “a pele escura”. Confrontada por Oprah sobre quem teria feito essas observações,

Meghan preferiu não revelar nomes: “Acho que seria muito prejudicial para essa pessoa.” Contudo, o casal deixou claro que não foram feitas nem pela rainha nem pelo duque de Edimburgo.

Na entrevista, Harry e Meghan revelaram ainda que o bebé que esperam “é uma rapariga”, que deverá nascer no verão. E concordaram que a família ficará completa assim: “Foi maravilhoso saber que vamos ter uma menina. Um rapaz e uma rapariga. O que mais podemos pedir? Agora temos a nossa família, temo-nos aos quatro, e aos dois cães.“

O príncipe, no entanto, não escondeu a tristeza quando Oprah lhe perguntou se alguém na família lamentou a forma como o casal se sentia.

“Infelizmente, não. Demonstraram que foi uma decisão nossa, por isso, as consequências são nossas também”, afirmou dizendo que quando se mudou para o Canadá, o pai deixou de atender as suas chamadas e que, embora agora tenham voltado a falar, “há ainda muito por trabalhar” na relação. “Sinto-me muito dececionado, porque ele passou por algo semelhante, sabe como é a dor. Vou amá-lo sempre, mas há muitas mágoas”, sublinhou, dizendo que a mãe, a princesa Diana se iria sentir “triste e zangada” com a forma como Meghan foi tratada. “Tudo o que ela queria era que fôssemos felizes.”

Sobre a relação com William, Harry disse: “Amo o meu irmão. Passámos pelo inferno juntos, tivemos as mesmas experiências, mas seguimos caminhos diferentes.” E da avó, a rainha Isabel II, Harry
afirmou: “Nunca ofuscaria a minha avó. Tenho muito respeito por ela.” Quanto a Thomas Markle, Meghan disse “que será muito complicada uma reconciliação” com o pai: “Olho para o Archie e penso em como, genuinamente, não consigo imaginar fazer algo intencionalmente que lhe possa causar dor.”

Meghan e Harry consideram que tomaram a decisão certa ao afastarem-se da família real e de Inglaterra.
Meghan referiu-se à sua vida com Harry, como “uma jornada melhor do que qualquer conto de fadas” e disse: “O Harry salvou-me quando nos mudámos para a Califórnia”, ao que o marido respondeu: “Sem qualquer dúvida, a Meghan é que me salvou a mim, porque eu estava preso e não via uma saída.”

A reação da família real às declarações do casal chegou um dia depois da entrevista: “Toda a família está triste ao saber o quanto os últimos anos foram desafiadores para Harry e Meghan. As questões levantadas, principalmente as de racismo, são preocupantes, levadas muito a sério e serão tratadas pela família em privado.”