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Nacional
Alta Costura por Filipa Guimarães: 'Chega de infantilizar os adultos'
Alta Costura na Lux por Filipa Guimarães, jornalista e escritora Foto: Carlos Ramos
Redação Lux em 14 de Janeiro de 2021 às 18:00

CHEGA DE INFANTILIZAR OS ADULTOS por Filipa Guimarães

Haja paciência para o que as televisões fazem de nós, os confinados: umas criancinhas desmioladas. Claro que há sempre o botão para desligar a televisão, mas ninguém se aguenta vivo e fechado em casa (ou mesmo em família), tantas horas, sem espreitar as programações dos canais nacionais. É demasiado tempo dentro de portas, mesmo para quem esteja em teletrabalho ou a estudar. De filmes como “Kung Fu Panda” até às vestimentas dos convidados dos programas televisivos, tem sido uma dose de embrutecimento digna de registo. Está cada vez mais difícil passar estes fins de semana no domicílio. Durante o Natal e até depois da passagem de ano, já tão racionadas de gente e de atividades, quase me senti gozada. Nem vale a pena dizer qual o canal que mais me maçou. Mas dou uma pista: nenhum era de notícias ou desporto. Se não existisse a Netflix ou a HBO, não sei como aguentaria tudo isto. Como é que em tantos pacotes de canais por cabo (e com as honrosas exceções da RTP2 e da RTP Memória), podem pensar que todos queremos ver filmes para menores de 12 anos? Ou imitar os participantes dos programas da tarde, a comportarem-se como crianças quando os pais estão fora? A narrativa visual é cada vez mais simples ou mesmo inexistente. Há uns bons anos, o inocente “Big Show Sic” era visto como se fosse algum filme pornográfico, por mostrar umas bailarinas mais despidas. Agora, é quase como se fosse “giro” agir e reagir como os miúdos. A falta de sofisticação dos conteúdos e o empobrecimento destes programas televisivos só podem fazer mal aos adultos. O José Malhoa, com anos e anos de televisões, apareceu a cantar com um blazer cheio de emojis... O que se seguirá? Vamos começar a ver esta gente toda de chucha e bibe? Já faltou menos.

(Crónica publicada na Lux 1080 de 11 de janeiro)

 
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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