A história de Constança Braddell sensibilizou Portugal. A jovem, de 24 anos, usou as redes sociais para partilhar o desespero em que se encontra, sem meios para travar o agravamento galopante da fibrose quística, uma doença “mortal e incurável, afeta múltiplos órgãos do aparelho digestivo, mas essencialmente os pulmões”, e apelar ao acesso generalizado do Kaftrio, o tratamento revolucionário que lhe pode salvar a vida, mas cuja venda em Portugal ainda não foi autorizada pelo Infarmed.
“Não quero morrer, quero viver! Nunca pensei chegar ao ponto de ter de escrever sobre a iminência da minha morte (...) Perdi 13 kg no espaço de três meses e estou ligada a oxigénio 24/7, e a um ventilador não invasivo para dormir, porque é a única maneira de eu conseguir continuar a respirar (...) tenho experienciado ver a minha vida a terminar lentamente”, escreveu Constança, cuja mensagem foi recebida com surpresa pelos que a conheciam.
“Tive sorte, pois a fibrose quística pouco interferiu na minha vida, tanto que nunca senti a necessidade de contar nem aos meus amigos mais próximos. Mas, tal como muitas outras doenças raras mortais, elas atingem-nos quando menos esperamos.”
Partilhada centenas de vezes entre amigos, figuras públicas e anónimos, a publicação de Constança tornou possível que a campanha de angariação de fundos lançada por familiares e amigos para comprar o medicamento atingisse, em dois dias, mais de 200 mil euros. Na página da campanha, lê-se que “cada caixa de medicamentos custa cerca de €15.700 e a Constança precisa de pelo menos um ano de medicação – 12 caixas. Mesmo que não alcancemos o objetivo final, qualquer ajuda é bem-vinda”. Num apelo que faz também em nome dos 400 doentes de fibrose quística que há em Portugal, Constança Braddell viu o seu quadro clínico agravar-se e, à data de fecho desta edição, a jovem encontrava-se internada no Hospital Pulido Valente, em Lisboa.
Entretanto, chegaram boas notícias e foi divulgado que o Infarmed aprovou 14 pedidos de Autorização de Utilização Especial do Kaftrio, seis dos quais do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, entre eles o caso de Constança.