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Nacional
Pote de água por Tiago Salazar: 'Contágios I' e 'Tomates I'
Tiago Salazar
Redação Lux em 17 de Dezembro de 2020 às 10:00

por Tiago Salazar

CONTÁGIOS I
A saúde é o bem mais preciso, eis um axioma inquestionável. Sem saúde, a já de si frágil condição humana, fica atrofiada. Em tempos de pandemia e de naturais temores instalados o tema da saúde pública reveste-se de particular importância. Se usar máscara cirúrgica entre pares limita o contágio então use-se a dita. Não se deixe, porém, de questionar outras estirpes de doença, em particular a mental.
A falta de saúde mental conduz à estupidez que antecipa toda a espécie de violências.
Por isso, o tratamento será diferente de acordo com a patologia em causa, sintomas associados e causas etiológicas quando é possível determiná-las.
Medicamentos específicos, relaxantes musculares e psiquiátricos, vasodilatadores, corticóides, antibióticos, anti-inflamatórios, manobras recuperadoras, cirurgias variadas específicas, injecções intratimpânicas de gentamicina ou de dexametasona, fisioterapia, correcção de posturas anormais, mudar hábitos alimentares substituindo alimentos ricos em gorduras saturadas por gorduras mais saudáveis, não abusar do sal e evitar exercícios e atividade física violentos, constituem um vasto arsenal terapêutico a que podemos lançar mão.

 

TOMATES I
É um elogio salutar. Ter tomates. Tê-los no sítio. Sitius, Altius, Fortius. Passa por ter coragem de dizer e acarear quem e o que nos dá urticária. A obediência servil à Lei sem direito ao seu contrário.
Quem se manifesta com argumentos é gente de tomates. Mulheres incluídas ao barulho, pois muitas têm-nos mais proeminentes do que muitos machos de trazer por casa.
Aqui, nas redes, há um trabalho diário a fazer de protesto e exortação. Por exemplo, o uso imperativo da máscara no lugar de esvoaçar, livre, feliz, individual, com a língua de fora. Estou neste instante a dedilhar junto ao Tejo sem vivalma. Aproxima-se um agente da autoridade para me situar que é como quem diz advertir mas não tarda, se a lei passar, para me autuar. É claro que é um sinal de respeito pelo próximo e eventual protecção de bichezas, colocar a mascarilha. Mas na solidão dos bosques de Monsanto ou nos arrabaldes desertos das portas de Benfica, quem me poderá ditar o imperativo? Isto é um exemplo apenas para levar aos tomates que tendem a ser cortados, pisados e esmagados por dietas esclavagistas.
Temos muito mais para nos entreter o direito ao protesto. A especulação.
A corrupção. A violência doméstica. Os salários africanos. Os perdões fiscais aos barões. O Chega. O Cinismo e a Hipocrisia do sistema...
Nota: Que uma máscara cirúrgica de cirurgião evite contágios a 100% é admissível. Que guardar distâncias sociais e recolher ao chalé conduz à menor propagação de vírus (não apenas do Covid) é elementar. Que o ser humano é manhoso como os bichos e as bichezas já estamos carecas de o confirmar. Agora, não me imponham regras como se eu fosse um chavalito ignorante. Não me incutam o medo porque a morte está ao virar da esquina. A morte está ao virar da esquina. Não me façam descrer que em cada bilionário a enriquecer por conta do azar dos outros não há uma inoculação de astúcia.
Também não me dêem lições de moral porque ando na rua sem máscara, pois faço-o a distância imperativa de todos os sapiens. Não me convençam que, se não houver alto sentido de Estado, reorganização do todo a que se chama país, e continuarmos nas pelejas do primado da inteligência e seriedade, não vamos ser engolidos e mortos por um vírus muito mais mortífero: o da servidão.

(Crónica publicada na edição 1976 da Lux de 14 de dezembro)

 
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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