O caso remonta a 2022, quando Joana Marques publicou, no Instagram, uma montagem satírica da atuação dos Anjos a interpretar o hino nacional antes de uma prova do MotoGP em Portimão, que incluía reacções negativas do júri do programa Ídolos. Segundo os representantes legais dos cantores, a dupla tentou resolver a situação de forma informal, solicitando a remoção do vídeo, mas tal não aconteceu. A humorista diz que “nunca houve uma tentativa de acordo” e que a dupla musical sempre insistiu na retirada do vídeo. Três anos depois, eis o julgamento. Joana Marques chegou ao Palácio da Justiça, em Lisboa, acompanhada pelo marido, Daniel Leitão lamentando o desfecho judicial da situação: “Sei que a outra parte também lamenta ter chegado a tribunal, o que acho curioso” - disse, sublinhando - “O tempo do tribunal, poderia ser um bocadinho mais bem aproveitado para outras questões”.
Apesar disso, mostrou-se pronta a defender-se: “Foi prometido que hoje ia finalmente saber-se as coisas graves que se passaram, venho nessa expectativa. (...) Tenho muita coisa para dizer, fui tomando muitas notas ao longo deste ano.”
Nelson Rosado, o primeiro a prestar depoimento. afirmou que o vídeo “não é uma mera reprodução”, mas sim “um vídeo novo, porque cortou partes da atuação”. Apontou, em particular, a ausência do verso “levantai hoje de novo”, acusando a humorista de manipular o conteúdo para criar uma ideia errada: “Passa-se a ideia de que não sabíamos cantar o hino (...) Somos acusados de assassinar o hino. Nós não nos enganámos no hino e muito menos somos assassinos”, disse o cantor, sublinhando o impacto da polémica, referindo que ainda hoje recebem mensagens de ódio: “Continuamos a pagar essa fatura. Recebemos cyberbullying, ameaças… tivemos de contratar segurança privada para estar à paisana no meio do público.” Disse ainda ter sofrido de insónias e ansiedade: “Comecei com medicação natural, mas tive de passar a ansiolíticos.”
Nelson assegurou que a atuação não teve falhas e criticou a reutilização do vídeo em espetáculos ao vivo de Joana Marques: “Para se fazer bom humor não é preciso falar mal de ninguém.” Acrescentou que, além dos danos de imagem, sofreram também prejuízos profissionais — incluindo o adiamento da colaboração com os Calema e o cancelamento de dois patrocínios.
.Seguiu-se o testemunho de Sérgio Rosado, que reiterou a acusação de manipulação e partilhou também o impacto psicológico: “Tive uma crise de acne provocada por stress.” Para prevenir uma depressão, inscreveu-se num triatlo com apoio familiar: “Reuni a família e disse: eu preciso de fazer isto.” Acrescentou que ainda sente os efeitos: “Continuo a ir a locais públicos e a ouvir comentários.”
O segundo dia foi marcada pelos testemunhos de apoio aos Anjos. O maestro Nuno Feist afirmou que, se o áudio original tivesse sido respeitado, “isto nunca teria acontecido”. Já o empresário Bruno Carvalho revelou ter cancelado um contrato de 75 mil euros após ver o vídeo: “Não quis continuar associado à polémica.”
Timi Montalvão, produtora do vídeo original, emocionou-se ao falar sobre os efeitos do caso em Nelson Rosado: “Deixou de conseguir dormir, estava mesmo em sofrimento.”
As mulheres dos músicos também depuseram. Sílvia Rosado partilhou que o filho percebeu que “o pai não estava bem” e que a família recorreu à oração. Andreia Rosado recordou um episódio num centro comercial em que os filhos ouviram comentários sobre o pai, obrigando-o a intervir.
Os Anjos exigem uma indemnização de 1 milhão e 118 mil euros, alegando danos materiais e morais. O julgamento prossegue no dia 30 de junho, com novos testemunhos previstos, incluindo o de Ricardo Araújo Pereira.
Entretanto, o vídeo que esteve na origem do processo duplicou o número de visualizações desde o início do julgamento.