'Os vários vírus de Trump' por Filipa Guimarães
Donald Trump foi infetado com o coronavírus. Há várias versões do dia exato em que sentiu os primeiros sintomas, se levou oxigénio ainda antes de ir para o hospital e até se a equipa médica que o assistiu disse a verdade ou vai continuar a dizer. Aliás, a verdade é a coisa que menos parece importar ao atual presidente dos EUA. A verdade, e também a saúde e mortes dos seus conterrâneos. Já se viu que continua a “tuitar” como um adolescente malcriado, a insultar os seus opositores políticos e, muito irresponsavelmente, a tentar passar a ideia de que a pandemia (como as alterações climáticas) são males menores ou inexistentes. Tudo o que não lhe interessa, é falso. Mas, afinal, qual é o “problema” deste político? Desde sempre que lhe foi atribuída a falta de empatia. Mas isso é um problema mental? É, e pode ser bem grave. De acordo com a reputada revista Psychology Today, vários profissionais de saúde mental reuniram-se para lhe traçar o perfil psicológico. A ideia, de acordo com a referida publicação, seria o “dever de advertir” os eleitores. Baseados nas declarações e comportamentos do presidente norte-americano, os psiquiatras concluíram que ele não era indicado para o mais alto cargo da nação. O diagnóstico, em forma de vários ensaios e publicado em livro (“The Dangerous Case of Donald Trump”, 2017) foi rapidamente um best-seller do jornal The New York Times, mas de pouco adiantou. Já vimos que na maior potência do mundo é mais difícil destituir um presidente do que fazer ovos estrelados. Assim, e de acordo com essas análises, psiquiatras diagnosticaram-lhe vários problemas. Um é o transtorno de personalidade narcisista. A falta de empatia estará no topo da evidência desse problema psiquiátrico de Trump, mas a lista é longa. As pessoas que sofrem desta doença acreditam que são superiores aos outros, exageram ao falar do seu talento e realizações, estão sempre à espera de elogios, não validam o sofrimento alheio e esperam que toda a gente faça o que elas querem. Já assistimos a tudo isto e, muitos de nós, já se questionaram porque é que ele será assim? O mais fácil é dizer que ele é feio e gordo ou que a sua mulher, Melania, é bonita de mais para ele e que deve ter um amante secreto. Mas isso não é um problema mental. Quando muito, é um problema conjugal. De acordo com este estudo, faz partem deste quadro psicológico outras características: autoestima frágil, ser irrealista, ciumento e ter facilidade em sentir-se rejeitado. Tudo parece bater certo. Mas, e agora, o que fazer? Os ditos médicos avisaram que o narcisismo patológico pode transformar-se numa espiral psicótica de paranoia e fazer com que o presidente tome decisões inseguras. A “decisão” de não ter usado máscara foi a última prova disso. Porém, um dos autores do estudo, o médico de Harvard, Lance Dodes, não se fica só por um problema. Donald Trump também tem transtorno de personalidade antissocial. E em que consiste isso? Em comportamentos de irresponsabilidade, agressividade e desrespeito pela segurança de si próprio e dos outros. Assim sendo, se ninguém travar o presidente dos EUA, ainda para mais em plena pandemia, o mais certo é que tudo isto acabe muito mal. E o que é que o mundo tem para se proteger dos tantos “vírus” de Trump? Nos EUA, a “vacina” para estes vírus mentais é o voto. A ver se é desta que aprendem...
(Crónica publicada na revista Lux 1068 de de outubro)