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Nacional
Alta Costura por Filipa Guimarães: ''Na piscina “com” uma escritora portuguesa"
Alta Costura na Lux por Filipa Guimarães, jornalista e escritora Foto: Carlos Ramos
Redação Lux em 24 de Setembro de 2020 às 18:00

Na piscina “com” uma escritora portuguesa

Ler é bom. Aliás, é a melhor coisa que há, quando há tempo e não temos a cabeça cheia de ruído mental. Este ano, li tão pouco, que até tenho vergonha de o assumir aqui. Não fossem outras pessoas terem dito que também andaram sem concentração nenhuma desde que apareceu a Covid-19, talvez não o confessasse. A culpa não é só do maldito vírus, é inteiramente minha. Tive tempo que chegasse para ler pelo menos 10 livros durante estes meses anormais. Andei demasiado ligada às notícias e às redes sociais. Acordar e adormecer semanas seguidas com “notícias Covid” não me fez bem. Para ler, preciso de ter ambiente para ler e esse inclui ter o “meu” silêncio. De há uns anos para cá, criei uma espécie de ritual de verão, que consiste em ler na boia da piscina, sem mais ninguém, a ouvir os passarinhos e o barulho distante de uma queda de água. Foi neste cenário sossegado que li “Os Pássaros Cantam em Grego”, da Rita Ferro. É o terceiro volume do diário dela, o primeiro para mim. Colei-me a ele como em miúda me colava aos “Sete”, aos 20 ao Vargas Llosa ou aos 30 a Milan Kundera: a querer ser como eles. A escritora Rita Ferro não me deu vontade de comer lanches, viajar pelo Peru nem viver amores difíceis, mas uma vontade enorme de ir viver para fora da cidade. Este volume parece ter sido feito para este e outros confinamentos que aí possam vir. Mas não. Começou a ser escrito em janeiro de 2019, ainda o “bicho” não existia. Depois da pandemia ter sido declarada, não faltaram pessoas a sonhar mudar-se para o campo, para andar sem máscaras e cultivar hortas. Rita Ferro antecipou-se, e por motivos bem diferentes destes que refiro. Não foi nenhum “surto de bucolismo”, como diz a própria, mas uma necessidade bem mais profunda: “Quis mesmo (...) saber como me aguentava sozinha e sem apoios.” Nesta altura de tantas incertezas, vale a pena ler este livro. Nem que seja para projetar a nossa existência em cenários diferentes. Não é esse, afinal, todo o prazer dos livros?

(Crónica publicada na Lux 1064 de 21 de setembro de 2020)

 

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Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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