PUB
PUB
Nacional
Após morte trágica de Pedro Lima, vários famosos falam abertamente sobre a depressão
Pedro Lima - 40º aniversário do Teatro Aberto 25.05.16 Foto: Ricardo Santos/Lux
Redação Lux em 30 de Junho de 2020 às 19:33

Após a morte trágica de Pedro Lima no passado dia 20 de junho, o tema da depressão, assumido no passado pelo ator, veio a lume, com várias figuras públicas a manifestarem-se e a partilharem, de forma aberta, a sua própria experiência com a  depressão, para deixar um alerta sobre a importância da saúde mental. 

Manuel Luís Goucha, de 65 anos, falou honestamente sobre o assunto no programa “Você na Tv”. Há 26 anos tive uma depressão e a ideia de suicídio passou-me pela frente. Mas procurei ajuda e fiz psicanálise e, nestes 26 anos que entretanto decorreram, nada mais aconteceu. Mas eu estou muito atento a todos os sinais”, assumiu. 

Visivelmente abalada pela morte do grande amigo, Liliana Campos aproveitou o momento momento para recordar a fase difícil que também passou após a morte da mãe. “Eu própria já passei por isso. Graças a Deus socorri-me das pessoas certas e soube sentir os sinais e procurar ajuda. Mas, se quer que lhe diga se alguma vez pensei em suicídio, pensei. E pensei que se calhar era melhor não estar aqui. Graças a Deus que tudo isso desapareceu e que não aconteceu nada. Mas só quem sente aquela dor e aquela angústia é que percebe o quão paralisante pode ser em ver uma saída”, explicou.

Natália Luiza, por sua vez, deixou um emocionado texto de despedida a Pedro Lima em que abordou, de forma tocante, o tema da depressão. A atriz e encenadora, de 60 anos, confessou, ele própria, ter experienciado a depressão e ter procurado ajuda médica a conselho de uma amiga: “Um dia, uma amiga percebeu que eu tinha uma COISA e disse-me;- Tens de te tratar. E eu fui ao médico, e, se calhar, por isso, estou viva, porque eu não sabia que tinha uma COISA dentro. E fiquei a saber que a COISA nunca larga, está sempre, sempre. Depois a gente julga que ela despareceu, mas no auge de qualquer paisagem, percebemos que ela esteve inteligentemente a olhar para o lado e que nunca de lá saiu, mais forte e mais madura que nunca, cheia de esquemas e disfarces e argumentário”. “O Pedro abriu dentro de mim uma porta muito grande, ao entregar a vida ao mar. Ele disse a fazer, o que os textos não podem, o que todas as palavras juntas não sabem”, frisou, acrescentando – “ Não perguntem porquê. Isto não tem porquês, não se explica. E nós, para além dela, da dor, amamos muito, tudo, ama-se tudo o que é fora, que é fora de nós, porque nós somos a COISA, que queremos matar, que não se explica, que cresce no escuro. PEDRO QUERIDO, OBRIGADA por nos teres quase obrigado a falar disto, compelidos por esta dor sem nome da tua perda, mas de certeza a olharmos mais atentamente e melhor uns pelos outros, a olhar para e por nós, com todo o cuidado, amor, delicadeza e sem fingimento. E, um dia ao amanhecer, encontraremos outro mar, aí nesse lugar onde nos encontraremos todos... para recomeçar…”.

O humorista António Raminhos, de 40 anos, surpreendeu ao fazer uma chamada de atenção. “Ninguém sabe aquilo que nos vai na cabeça. E, muitas vezes, não partilhamos por medo, dor, porque achamos que ninguém vai compreender. Até ao dia que, por alguma razão, percebemos que há mais alguém que pensa como nós. Que já sofreu como nós” registou, nas redes socais, deixando uma mensagem de apelo para que se abra o coração e não se sofra em silêncio. “Falem, contem e, sobretudo, procurem ajuda”.

Outro profissional do humor, Nuno Markl, de 48 anos, abriu o coração aos fãs ao revelar que há cerca de um ano procurou ajuda devido a problemas de autoestima. Ao fazer uma homenagem a Pedro Lima nas manhãs da Rádio Comercial, o comunicador recordou uma das últimas entrevistas em que Pedro Lima falava nas suas inseguranças admitindo identificar-se com os mesmos problemas. “Eu tive e ainda tenho problemas de autoestima frisou”.

E a lista de artistas que deram voz ao alerta para a saúde continua.“Bora falar de depressão e suicídio, sim!”, vincou outra humorista, Beatriz Gosta (aka Marta Bateira). “Se até agora não falar de depressão e suicídio não impediu que os números aumentassem, bora adotar uma estratégia diferente, bora esclarecer, informar e falar sobre essa doença, essa realidade para que quem a vive, não se sinta só e incompreendido e não tenha vergonha de pedir ajuda”, deixou em sincero aviso.

A cantora-compositora Márcia, por sua vez, salientou a importância de não estigmatizar os problemas de saúde mental. “Não sabemos nada dos outros. Apressamo-nos a julgar, a ver o outro sem nos pormos no seu lugar. Cedemos à mentira social de que só (re)conhecemos o lado solar da vida, e nunca o lado oposto. Quando eu era miúda, ir a um psicólogo era conotado como maluquice, e procurar ajuda era sinónimo de fraqueza. Hoje sabemos que quem procura ajuda é porque tem a força de reconhecer que a tristeza faz parte da vida, porque as lágrimas não têm fim quando se chora sozinho. Enquanto não reconhecermos que os momentos de tristeza são parte da vida, vamos sempre aumentar o fosso de solidão de quem está a passar um momento mau. Se isto vos parece uma mensagem triste; não é. É uma mensagem de esperança e de coragem a quem se reveja no que escrevo. Porque não sabemos nada dos outros, mas importa sabermos de nós mesmos”, assegurou.

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Comentários

PUB
pub
PUB
Outros títulos desta secção