Chama-se “Houve um tempo”, o artigo que Alberta Marques Fernandes publicou na plataforma Maria Capaz, em que desabafa sobre uma fase delicada da sua vida.
“Houve um tempo em que me esqueci de mim. Houve um tempo em que o tempo de mãe, de irmã, de namorada, de amiga, de jornalista, ocupou todo o coração. Houve um tempo em que um cigarro, um chocolate ou uma taça de tinto preenchia o vazio que teimava não reconhecer, que negava existir. Houve um tempo, muito tempo, demasiado tempo, em que vivi tão longe do que me podia fazer bem, mais do que longe, alienada, não conhecia outra realidade, outra forma de vida. O curioso é que até me sentia bem, conformada com o que tinha. Houve um tempo em que encontrava desculpas para tudo: para a falta de tempo, para a falta de ambição, para a falta de amor próprio. Encontrei sempre desculpas, argumentos fortes que explicavam tudo: a morte precoce dos pais, a filha prematura, a vida exigente, os falhanços de amor… Como se fosse a única pessoa no mundo com pedras no caminho, como se o sofrimento me definisse. Uma vítima, portanto. Como vítima sentia-me no direito de compensar o sofrimento com prazeres instantâneos que só alargavam o buraco no coração que eu não queria ver, teimava em não ver. (...) Houve um tempo, muito tempo, demasiado tempo em que vivi sem me amar. Esse tempo acabou!… ou melhor, está a acabar, todos os dias um pouco, é um processo longo e difícil, esse, o da nossa reconstrução”, escreveu.