PUB
PUB
Nacional
Cristina Caras Lindas: 'Os médicos ficaram impressionados, porque eu não tinha de sobreviver'
Cristina Caras Lindas - Concerto de Djavan no Casino Estoril 07.11.16 Foto: Tiago Frazão/Lux
Cátia Soares em 10 de Março de 2017 às 10:00

Cristina Caras Lindas, que ainda se encontra a recuperar dos graves problemas de saúde que enfrentou recentemente, recorda os momentos difíceis por que passou.

“Quando entrei no hospital disseram às minhas filhas que eu tinha o rim e o pulmão em falência. Só dois dias depois é que lhes dizem que a mãe também tem uma gripe A. Eu tinha tido malária uns 4 meses antes. Estava muito fragilizada. É muito raro a gripe A alojar-se nos pulmões, mas foi isso que a malandra fez e ia-me matando. Não chegando, depois ainda apanho duas bactérias hospitalares. Ora, se era terminal, continuava a ser terminal. Estive em coma e acordei sem andar nem falar, e sem saber quem era. Quando uma vez uma filha minha sorriu é que percebi que conhecia aquela pessoa e fez-se luz. Mas foi muito lento o processo. Depois há um dia que eu sei que sou a Cristina Caras Lindas, que tenho duas filhas, e a minha vida é um filme. E aí, sim, sofri muito, porque não andava e tive a noção de que não me mexia, porque foram 6, 7 meses acamada e os músculos morreram. E, aí, doeu. Aí tenho a noção de visualizar que queria voltar a correr com os meus cães na praia, que queria voltar a fazer caminhadas, que queria voltar à vida que tinha. E o que me ajuda a não desistir é eu querer voltar a ser quem era, e acho que é isso que me dá aquela força para fazer a fisioterapia todos os dias. Eu não conseguia estar sentada sequer, não conseguia pegar numa caneta para escrever ou num garfo. Por isso, hoje, abrir uma janela de manhã ou maquilhar-me é uma alegria, porque sou eu que sou capaz. Ainda não estou como eu queria, mas para lá vou caminhando. Na minha cabeça visualizar o que eu queria da vida ajudou-me muito a não ser uma desistente e a ser uma resistente. Aliás, os médicos ficaram todos impressionados, porque eu não tinha de sobreviver, e, depois, eu saio do hospital a andar... Mas eu sempre disse: Eu vou sair daqui a andar. Amparada pelas minhas filhas, mas saí a andar, não quis cadeira de rodas. O braço esquerdo ainda não o sinto muito bem, porque, como tive o pulmão direito e o rim direito em falência, nos três meses de coma fiquei muito sobre o braço esquerdo. E das coisas que mais me está a custar recuperar é esta parte. Mão e antebraço. Mas para quem não andava nem falava, estou muito melhor."

Cristina Caras Linda contou ainda à Lux que está a escrever a sua biografia.

“Estou fechada a escrever o livro. Começa pelo coma, curiosamente. Chama-se ‘Aquela Garota’ e sai em abril. Está a ser doloroso, porque estou a fazer uma terapia. Estou a descobrir até uma pessoa que eu nem sabia quem era. Através das fotos das revistas, dos arquivos, etc. Eu nunca fui de guardar nada. Agora preciso de muita coisa para a biografia, mas vou ter de me cingir ao que tenho. E, claro, dói, há momentos em que dói muito. Há outros em que sinto como quando alguém quer muito dar uma volta ao mundo e depois já deu… Porque eu já vivi muito. Se tivesse partido acho que o que tinha ficado era o testemunho de uma pessoa que tinha vivido profundamente, que tinha tido glória profissional, que tinha sido muito amada nos seus casamentos, que tinha tido duas filhas maravilhosas e amigos extraordinários que nunca me largaram nem nunca me falharam.”

 

 

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Comentários

PUB
pub
PUB
Outros títulos desta secção