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Nacional
Palco vazio recebe Bruno Nogueira, Nuno Lopes, Gonçalo Waddington e Beatriz Batarda
Rosencrantz & Guildenstern Estão Mortos de Tom Stoppard
Redação Lux em 10 de Abril de 2013 às 13:28
Bruno Nogueira, Nuno Lopes, Gonçalo Waddington e Beatriz Batarda são quatro dos atores que atuam em «Rosencrantz & Guildenstern estão mortos» de Tom Stoppard, com estreia na quinta-feira no Teatro Nacional de São João, em palco despido de cenários.

O elenco integra também jovens estudantes da Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo (ESMAE).

É um elenco com 17 pessoas, coisa já rara nos dias que correm, como reconheceu o encenador Marco Martins que teve de esperar vários anos para levar à cena esta peça.

O espetáculo, que vai estar em cena até ao dia 28, decorre em toda a dimensão do palco do São João, completamente despido de cenários, com a teia bem à vista. «Não há um cenário, vivemos tempos maus, são restos de coisas que já aconteceram, restos de peças. É um bocadinho a situação que se vive neste momento na cultura» ironizou Nuno Lopes.

«Rosencrantz & Guildenstern estão mortos» pode ser definida como um encontro entre Shakespeare e Beckett, os dois píncaros do teatro britânico, com alguns laivos de Pirandello. Pelo menos foi assim que foi recebida em 1966 quando a peça de Tom Stoppard, «absurda» e «existencialista» foi levada à cena no festival de Edimburgo.

Rosencrantz e Guildenstern (Nuno Lopes e Gonçalo Waddington), em Hamlet, são os dois enviados por rei Claudius para vigiar Hamlet, servindo-se do facto de serem amigos de infância do príncipe e que acabam por ser mortos no final. Aqui contracenam com o Actor (Bruno Nogueira) e a sua trupe de «Trágicos» (os alunos da ESMAE) e com algumas das personagens do Hamlet original, de que podemos ouvir alguns trechos entre ação desenhada por Tom Stoppard, que preenche algumas das ações que não vemos na peça de Shakespeare.

«No texto original, os dois personagens são secundários na história do Hamlet, mas aqui é como se fossem dois inocentes, que não sabem onde estão e o que estão a fazer, que são apanhados numa tragédia, na ação de uma peça e nada do que eles façam pode transformar essa tragédia», explicou o ator Nuno Lopes.

Para o ator, a peça é sobre «a procura da identidade, quem é que nós somos» e «não são só dois personagens que estão perdidos, são também dois atores que não sabem quais são os personagens que vão fazer na peça».

Nuno Lopes descreveu a peça também como um trabalho sobre a nossa relação com o poder, já que os personagens sentem que «os reis mandam neles e eles não podem ter uma opinião contrária» tal como «Hamlet, um jovem que não consegue agir contra o poder que manda nele».

O encenador Marco Martins considerou que a peça «tem um lado muito divertido, e daí uma certa ligeireza, embora depois coloque questões existencialistas extremamente pesadas».

«É quase um sistema de espelhos. Há o espelho do teatro que espelha a nossa vida. Mas aqui quase que há um espelho em frente ao outro, e depois já não sabemos qual é a imagem real e aqui brincamos muito com isso», explicou.

O também cineasta acha que nesta peça «Hamlet representa o teatro, mas a peça é muito mais que isso, é como o encontro de "À espera de Godot" com "Hamlet"». «O teatro aqui é um pretexto para falar sobre a nossa existência, a forma como nós ditamos aquilo que somos. Nós temos um nome mas somos mais do que um nome», explicou.

O mesmo acontece com Rosencrantz e Guildenstern, «uma personagem desdobrada em dois: o Guildenstern é a cabeça e Rosencrantz o coração», explicou Marco Martins. «São duas formas de olhar para o mesmo problema, sempre em constante diálogo, entre o nosso coração e o nosso cérebro, entre o pensamento e o sentimento».

LUSA
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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