A correspondência trocada entre José Saramago e José Rodrigues Miguéis entre 1959 e 1971, quando o primeiro era editor do segundo, está disponível em livro.

«José Rodrigues Miguéis correspondência 1959-1971 José Saramago» assim se chama o livro surgido na sequência de uma exposição sobre a vida e obra de José Saramago que esteve patente no Palácio da Ajuda em 2008, disse à agência Lusa o responsável editorial da Caminho.

«É um lote razoável de cartas ¿ são 186 trocadas entre os dois, a primeira de 1959 e a última de 1971, num período em que José Saramago trabalhava na Editorial Estúdios Cor, que editava o José Rodrigues Miguéis em Portugal», disse Zeferino Coelho.

O editor acrescentou tratar-se de um lote «bastante denso de cartas que acompanha a actividade literária de José Rodrigues Miguéis e que dá para ver o que era o trabalho de um editor nessa altura».

Recordou a propósito que José Saramago ainda não tinha publicado qualquer obra de relevo nessa altura ¿ apenas dois livros de poesia e um de crónicas ¿ e que na correspondência trocada entre Saramago e Rodrigues Miguéis são abordados vários acontecimentos importantes como o assassínio de John Kennedy (1963), a primavera marcelista e o assalto à Sociedade Portuguesa de Escritores em 1965, depois de o Grande Prémio de Novelística ter sido atribuído a Luandino Vieira.

Problemas relacionados com a Censura, as dúvidas e certezas de Miguéis sobre os seus livros, a circulação das provas dos livros, e questões da vida pessoal de ambos os escritores constam ainda da correspondência trocada entre Saramago e Miguéis, dois homens que se admiravam mutuamente.

«A apreciação de Saramago a obras do Miguéis e poemas inéditos enviados a Miguéis para que este se pronuncie sobre eles» constam das 186 cartas dadas agora à estampa nesta nova obra.

José Rodrigues Miguéis viveu em Nova Iorque entre 1959 e 1971, período durante o qual publicou, na Editorial Estúdio Cor «Léah e outras histórias» (1958), «Um Homem sorri à morte ¿ com meia cara» (1959), «A Escola do Paraíso» (1960), «O Passageiro do Expresso» (1960), «Gente da Terceira Classe» (1962), «É Proibido Apontar ¿ Reflexões de um burguês» (1964), «Nikalai! Nikalai!» seguido de «A Múmia» (1971). Preparava, entre outros livros, «O Milagre segundo Salomé».

Entre 1959 e 1971, José Saramago trabalhou na Editorial Estúdios Cor na qual entrou como director de produção mas rapidamente se tornou editor.

Foi enquanto editor que publicou as obras de Rodrigues Miguéis e três livros seus: «Os Poemas Possíveis» (1966), «Provavelmente Alegria» (1970) e «Deste Mundo e do Outro» (1971).