«A mãe precisa de amigos» é o título de uma crónica publicada na secção «life&style», do site do jornal «Público», que está a ser amplamente partilhada nas redes sociais e a gerar controvérsia e discussão.
A autora, Sofia Anjos, de 38 anos, foi mãe pela primeira vez em maio e decidiu escrever sobre a sua vida social (ou ausência dela) depois da maternidade.
Se, por um lado, muitas mães se identificam com a sua vivência da maternidade, outras criticam a sua visão despudorada.
Leia aqui um excerto e dê-nos a sua opinião:
«Costumo dizer que a minha vida social não mudou nada com a maternidade. Está no mesmo sítio. Eu é que não estou lá. Os amigos são os mesmos, só não os vejo. (...) As festas, jantaradas e saídas dos amigos reais continuam de vento em popa, fico a saber de tudo pelo Facebook, outro amigo recente mas fiel. Entre uma mamada e um cocó - bonita frase - descubro que a Joana foi para o Brasil, que o Pedrinho mudou de emprego e que o Ricardo ganhou um prémio. (...) Metade dos amigos das novas mães continuam amigos queridos, mas passam para a lista dos que se telefona no Natal a desejar Boas Festas e a dizer que temos o presente cá em casa. Temos? Os restantes, em particular amigas, esforçam-se por resistir às conversas maternais. É que as amigas solteiras, com quem esvaziávamos as garrafas de vinho e enfiávamos no táxi primeiro que nós, não sabem qual o hipermercado que está com fraldas em promoção. (...) Há mesmo dois grupos, os que têm filhos e os que não têm filhos. A uns não lhes interessa patavina o que os outros fizeram ontem à noite. E aos outros tanto se lhes dá que se tenham levantado dez vezes durante a noite. (...) Sair de casa para uma noite a dois, ou mais, é difícil. As dez primas, oito amigas e duas irmãs são devotas das noites de sábado. Como amiga que sou não posso estragar-lhes essa rambóia. Já as babysitters são caras e toda a gente sabe que rebolam no sofá. (...) Felizmente, há vida social na janela da sala. Todos os dias vou lá tomar café, fumar um cigarro, cumprimentar a família de árvores que vive em frente. Fico ali debruçada no parapeito. (...) E fico a recordar os primeiros dias após o parto em que registei para cima de uma centena de chamadas não atendidas. Um festim. Depois foram diminuindo até que estive quase a ir enterrar o telemóvel ali acima ao Alto de São João, tal o silêncio fúnebre que se apoderou dele. Talvez porque deixei de atender as chamadas. 'Ligo mais tarde!', 'Agora não posso, a miúda está a lamber um sapato!', 'Dá-me um minutinho para tirar os bróculos do lume que já te volto a ligar', 'Querida, assim que a deitar ligo-te e falamos à vontade'. E por aí fora com quotidianos interrompidos e nunca devolvidos. Mea culpa. Agora, se quero manter a bebé nos braços e as amigas ao ouvido, uso a função alta voz. É que uma das melhores partes da vida está nas amizades».