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Crianças
Entre no tom certo
Lux Especial Criança - Setembro 2009
Redação  com Felipa Garnel em 1 de Setembro de 2009 às 17:33
O pequeno mais não faz do que chamar a atenção sobre si, dizendo apenas uma qualquer infantilidade própria de quem é infantil. Pelo caminho, o que fica claro, pelo menos na mente do petiz, é que tudo gira em torno das suas vontades e do seu querer. O pai, que ordenou o silêncio necessário à intervenção do Joãozinho, mandou calar avós, irmãos, tios, amigos e todos os restantes comensais, para, com enorme orgulho, colocar o filho num pedestal de importância inversamente oposta ao interesse que a fala do menino poderia trazer ao guião daquele momento de convívio familiar.

Podemos ou não ter assistido a este episódio, mas todos reconhecemos o estereótipo, próprio de várias gerações de crianças endeusadas. Crianças que, em situações limite, acham normal bater num colega ou num professor quando as suas vontades não são feitas. Desrespeitam o outro, desrespeitando-se, em última análise, a si próprios e aos pais que tanto lhes «facilitaram» a má formação.

Crianças que acabam a braços com problemas de identidade, de realização pessoal, de insatisfação crónica. Amar e ser amado exige muito mais do que mera e cega (para não dizer tola) devoção. Amar é respeitar, dar espaço, liberdade, aceitar divergências, saber ouvir, dar importância ao que tem importância, aconselhar, encaminhar, ajudar, transmitir confiança, estar lá¿ Ficamo-nos por aqui, numa lista que, sem esforço, poderia continuar. Mas amar não pode implicar a anulação do sujeito que ama. Ou seja, amar também é dizer «Não». Ele é tão importante na educação, formação e estruturação psicológica e mental de uma criança quanto o «Sim». Não deitemos agora por terra o muito que já se fez na reabilitação e no respeito dos direitos das crianças, imperiosos, fundamentais e inalienáveis. Falamos, sim,de balizamentos que asseguram a própria segurança da criança, que a ajudam a perceber que o mundo não gira em seu redor e que há outros mundos com os quais não se pode colidir. O «Não» ensina a lidar com a própria frustração. Estimula até competências sociais (e porque não intelectuais), na busca de alternativas e consensos. Nenhum pai tira prazer em contrariar o filho, nem que nunca tenha caído numa das mais perigosas esparrelas: a de transformar «nãos» em «sins», ainda que consciente de que um eterno «Sim» é contraproducente, permissivamente limitativo e denunciador de um pai fraco e de uma má educação.

Sobre este vasto tema nos falou a psicoterapeuta infantil Asha Phillips, autora britânica do livro «Um Bom Pai Diz Não». Esperemos que sirva de ferramenta, ajude a reavaliar comportamentos e a encontrar saídas perante as muitas e ardilosas encruzilhadas com que os pais de hoje se deparam.

Felipa Garnel
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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