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Nacional
Antologia de Manuel Alegre reúne poemas de Abril escritos antes e depois de 1974
Manuel Alegre
Redação Lux em 23 de Março de 2014 às 09:26
A antologia «País de Abril», que é editada terça-feira, reúne 29 poemas de Manuel de Alegre, alguns escritos antes da revolução de 1974 que falavam já de abril e de cravos vermelhos.

Um dos poemas incluído intitula-se «País de Abril», e foi publicado, pela primeira vez em 1964 no livro «Praça da Canção».

Num dos poemas que constitui esta antologia, «Poemarma», também de 1964, Manuel Alegre escreveu: «Que o poema seja microfone e fale/ uma noite destas de repente às três e tal/ para que a lua estoire e o sono estale/ e a gente acorde finalmente em Portugal», com a precocidade de dez anos o poeta parece escrever sobre a madrugada de 25 de abril de 1974, em que se sublevaram as tropas dos quartéis em direção a Lisboa.

Do lote de poemas escolhidos está, entre outros, «Nós Voltaremos sempre em Maio», incluído também em «Praça da Canção» e que regista outra coincidência, observada à distância de cerca de 40 anos dos acontecimentos revolucionários, já que o poeta regressou a Portugal, do exílio em Argel, precisamente em maio de 1974.

Sete anos antes da Revolução, Manuel Alegre escreveu o poema «Lisboa perto e longe», em que numa das estrofes se lê: «Lisboa tem um cravo em cada mão/ tem camisas que Abril desabotoa/ mas em Maio Lisboa é uma canção/ onde há versos que são cravos vermelhos».

Alguns dos poemas foram cantados por nomes como Amália Rodrigues que gravou «Trova do vento que passa», com música de Alain Oulman, antes da Revolução de 1974. A primeira versão cantada deste poema, refira-se, é de António Portugal.

José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Francisco Fanhais, Manuel Freire, António Bernardino e Luís Cília foram outros nomes que gravaram alguns dos poemas incluídos nesta antologia.

Como se afirma numa nota preambular desta antologia, os livros «Praça da Canção» e «O Canto e as Armas», publicado em 1967, foram proibidos pela Censura, antes de 1974, «mas circularam de mão em mão em cópias manuscritas e dactilografadas».

«País de Abril» inclui também poemas escritos pelo ex-deputado socialistas e ex-candidato presidencial, durante o período revolucionário, e publicados, anos depois, em 1981, na obra «Atlântico».

Entre os poemas selecionadas estão, «Explicação do País de Abril», «Trova do Amor Lusíada», que foi parcialmente gravado por Amália Rodrigues, «Corpo renascido», «Explicação de Alcácer-Quibir», «É preciso um país», »As mãos», «Minha pena minha espada», «Letra para um hino», «As armas», «Trova do mês de Abril», «Vinte anos depois», «O cravo e o travo» e «Salgueiro Maia», entre outros.

A obra, editada pelas Publicações D. Quixote, celebra os 40 anos da Revolução dos Cravos, e chega ao mercado na próxima terça-feira.

Manuel Alegre é o único autor português que integra a antologia italiana «Canto Por Um Mundo Livre», organizada Marco Fazzani que selecionou, entre outros, Chico Buarque, Bob Dylan, John Lennon e Leonard Cohen, e foi editada em janeiro do ano passado.

Nessa ocasião, falando à Lusa, Manuel Alegre afirmou que «a poesia só por si não faz a revolução, mas não há mudança sem uma poética da mudança».

O poeta recordou a importância da poesia na luta contra o regime anterior ao 25 de Abril de 1974 e como alguns dos seus poemas foram musicados e interpretados por Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília e Amália Rodrigues.

Manuel Alegre, de 77 anos, tem cerca de 30 títulos publicados, que incluem poesia, discursos políticos e ficção, além de fazer parte de várias antologias. O seu mais recente título, antes de «País de Abril», foi o romance «Tudo é e não é», editado no ano passado.

Lusa
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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