Formado na Escola Profissional de Teatro de Cascais e tendo prosseguido os seus estudos em Londres e Nova Iorque, como bolseiro da Fundação Gulbenkian, Marco D`Almeida é, aos 35 anos, um dos grandes nomes do panorama artístico nacional.
Depois de nos ter presenteado com personagens com uma carga mais intensa e dramática, surpreende-nos com um registo mais leve, na papel de João em «A Bela e o Paparazzo», de António Pedro Vasconcelos.
Lux - Estando do outro lado da barricada, como se viu no papel do paparazzo?
- As revistas cor-de-rosa são, neste caso, o meu sustento! Foi fácil perceber que, no caso do João, a minha personagem, queria ser um fotógrafo de outra área. Aliás, já tinha feito fotografias de intervenção social, rosto... Mas, para ganhar a vida, teve de enveredar pelo lado do paparazzo e vive no dilema entre o dinheiro e o que faz.
Lux - Como é que se preparou para esta personagem?
- Falei com alguém que fez este tipo de trabalho e que me disse que o que sentia ia de encontro à minha personagem.
Lux - Tal como vocês actores que, muitas vezes, gostariam de fazer Teatro, mas acabam a fazer novelas porque é na televisão que se ganha dinheiro, não?
- Sim. Vivemos em Portugal!
Lux - Estamos habituados e vê-lo num registo sempre mais intenso e dramático. Em «A Bela e o Paparazzo», surge-nos um Marco d`Almeida mais descontraído, até cómico...
- Sim, um registo mais leve. Na minha formação também tive a ocasião de fazer coisas cómicas mas em Teatro, o que tem sem a sua finitude. Um filme, uma película fica para sempre e posso rever daqui a uns anos. O mais interessante, e uma vez que há essa tendência para pôr rótulos nos actores, ter tido o António Pedro [Vasconcelos] a acreditar que eu também seria capaz de fazer comédia foi muito bom. E ele deu-me essa oportunidade.
Lux- E como é foi contracenar com a aquela que é considerada a sex symbol do cinema português?
- Foi maravilhoso. A Soraia é uma actriz extraordinária, de uma enorme entrega ao trabalho e demo-nos muito bem no plateau. Éramos dois profissionais e, agora, dois amigos.
Lux - Somos um povo que, quase sempre, acredita que o que vem de fora é que é bom. Está curioso para saber como é que as pessoas vão reagir ao filme?
- Se não estou enganado, esta é a primeira comédia romântica portuguesa e estou bastante curioso. Não sei se é preconceito, mas é verdade que parece que o que vem lá de fora é que é bom. E o que me entristece é sermos sempre os primeiros a atirar pedras a nós próprios e nunca tentarmos encontrar algo de positivo.
Lux - Somos, por natureza, um povo invejoso?
- Sim e estamos muito segmentados. Se faço parte deste grupo, digo mal daquele... Há, não só uma espécie de inveja, mas quase de recalcamento, o que não é nada construtivo.
Lux - 2009 foi um ano muito bom para si e com registos completamente diferentes como a série «Equador» ou a novela «Meu Amor», ambos na TVI. Onde é que se sente melhor: Televisão, Cinema, ou Teatro?
- Gostava de poder fazer mais Cinema mas ainda não há uma indústria portuguesa, no verdadeiro sentido da palavra. A linguagem do Cinema é outra e aprende-se mais, mas sinto-me bem em todos os registos.
Lux - A novela é um produto para o povo, ao contrário do Teatro, que é visto como algo mais intelectual e enriquecedor. Sente-se diminuído ou menos actor quando faz uma novela?
- De maneira nenhuma! Agora, pessoalmente, o Teatro dá-me uma outra adrenalina. É aquele momento, o público está ali, é mágico. Penso que deve ser a mesma sensação que o cantor tem quando actua para uma multidão num estádio. A verdade é que, novela, tem melhorado bastante nos últimos anos. O que, às vezes, pode não nos dar tanta satisfação são os textos e o tempo de preparação. Se tivéssemos mais tempo, faríamos todos um melhor trabalho.