Enviado via comentário/Lux.pt
Bruno,
o meu nome é Carolina, tenho 26 anos e tenho leucemia. Decerto já ouviu falar de mim e até já ajuizou mas, garanto-lhe, não me conhece.
Pensei muito antes de lhe escrever. Se o deveria fazer, se a minha saúde ainda é suficiente para aguentar pequenas facadas de perfeitos estranhos e se deveria tentar explicar-lhe tudo. Mas, ao contrário de si, não sou uma pessoa egoísta e acredito nos outros. Até em si. Acredito que não escreveu tanto disparate e não me atacou publicamente por me querer fazer mal, mas apenas porque não sabe o que diz, não conhece quaisquer factos nem tem ninguém doente à espera de um transplante de medula para ter uma esperança de vida.
Pois bem, vou perder um pouco do meu tempo, que pode ser escasso, consigo:
- Depois de ciclos de quimioterapia extremamente dolorosos, de ter sido um vegetal de 35 kg, de ter dado um pontapé na morte e recuperado, preciso de um transplante de medula óssea.
- As pessoas, em geral, são boas, e quando conhecem o sofrimento alheio, juntam-se para ajudar. Assim, tenho tentado (e conseguido) sensibilizar muita gente para a Causa. Pessoas que não me querem deixar morrer assim, pessoas que não queriam estar no meu lugar.
- Os doentes, normalmente, não têm disposição, vontade, capacidade e, claro, os contactos para iniciativas deste género. Encontro-me estável, em casa, tenho um primo que me quer ajudar. Para isso, apelou à participação de todos e não será verdade que é bom dar o exemplo? E falar do assunto?
- O Bruno não sabe o que é ter uma doença potencialmente mortal. Se soubesse, não acharia que pretendo ficar conhecida (acha que o título "A Cancerosa" me assenta bem?) nem famosa. O Bruno não faz a mais pequena ideia do que é a leucemia, do que é conhecer todos os dias pessoas com a mesma doença, casos de crianças e adultos que dependem da solidariedade de terceiros para tentar sobreviver. Se soubesse, saberia que todos eles ficam contentes com estas iniciativas, e não ficam "revoltados" por não serem eles na fotografia com a Merche!
- Finalmente, gostaria que percebesse que o dador é anónimo e de qualquer parte do mundo. Todas as vantagens que eu obtiver desta iniciativa abrangem todos os doentes e, fique a saber, também eu tiro proveito das iniciativas com outras caras. Já agora, são muitas e todas elas com impacto.
Acho que já chega. Espero que tenha agora percebido alguma coisa sobre o assunto. Se tiver dúvidas, talvez o possa ajudar. Ou não, porque tenho mais com que me preocupar neste momento.
Já agora, espero que se torne dador. Porém, se o fizer, espero que seja de forma altruísta e que não espere nada em troca. Não vá a Lux ou outra revista falar no assunto...
Cumprimentos,
Carolina Melo