O escritor moçambicano Mia Couto admitiu hoje ter ficado alegre por ser distinguido com o prémio internacional de literatura Neustadt, alegando tratar-se de uma espécie de «contracorrente» face à situação no país e às «ameaças à sua família».
A distinção com aquele que é considerado o prémio Nobel norte-americano «coincide com um momento conturbado e de preocupação em Moçambique e, em particular, da minha família, que também foi objeto de ameaças», informou o escritor à agência Lusa, lembrando a «situação crispada [no país] devido à possibilidade de reacendimento da guerra».
Nas cidades «há uma situação de tensão grande causada pelas ameaças de raptos, sequestros e violência», referiu Mia Couto, que, por ser uma «espécie de contracorrente», admitiu a alegria de receber uma distinção.
Em declarações à agência Lusa, Mia Couto quis dedicar, em primeiro lugar, o prémio à sua família, que apelidou de «primeira nação».
«E depois a Moçambique, por todas as razões, mas agora ainda mais, porque temos de ficar mais juntos nessa busca por opções de paz, por alternativas de desenvolvimento», disse.
Mia Couto assinalou a importância deste prémio ser entregue a um escritor de língua portuguesa para «despertar interesse e atenção» para outros idiomas que não o inglês.
O moçambicano não deixou de se afirmar surpreendido por ser escolhido pelo júri do prémio Neustadt, dado o valor que reconhece aos outros candidatos.
A lista de nomeados para o prémio da Bienal Internacional de Literatura Neustadt integrava o escritor argentino César Aira, a vietnamita Duong Thu Huong, o ucraniano Ilya Kaminsky, o japonês Haruki Murakami, o norte-americano Edward P. Jones, o sul-coreano Chang-rae Lee, o palestiniano Ghassan Zaqtan e Edouard Maunick, das Ilhas Maurícias.
Atribuído de dois em dois anos pela Universidade de Oklahoma desde 1970, no valor de 50.000 dólares (37 mil euros), o galardão já distinguiu, entre outros, o brasileiro João Cabral de Melo Neto, Álvaro Mutis, Octávio Paz e Giuseppe Ungaretti.
Além do cheque, Mia Couto vai receber uma reprodução em prata de uma pena de águia.
Mia Couto é o pseudónimo de António Emílio Leite Couto, de 58 anos, autor que já recebeu os prémios Camões, Eduardo Lourenço e o da União Latina de Literaturas Românicas.
O autor de «Terra Sonâmbula» e de «Estórias Abensonhadas» já recebeu o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos, o Prémio Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora, o Prémio União Latina 2007, de Literaturas Românicas, o Prémio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, do Brasil, e o Prémio Eduardo Lourenço, entre outros.
«A Confissão da Leoa», editado o ano passado é o seu mais recente livro.
Lusa