Bernardo Teixeira, uma das vítimas de abusos sexuais na Casa Pia e testemunha no processo, considerou hoje que «fez-se justiça» com as penas aplicadas aos acusados e mostrou-se feliz com o resultado do julgamento, sentimento que garante partilhar com todos os jovens abusados.
«Há duas palavras que a partir de hoje se podem dizer claramente: vítimas (sem a palavras alegadas) e pedófilo, que é o que os arguidos são», afirmou.
Francisco, 25 anos, outra das vítimas e testemunhas do processo, aguardou por este dia para deixar de «andar escondido e com rodeios». Tinha a «decisão previamente tomada» de só prestar declarações públicas quando o processo estivesse concluído.
«Durante estes oito anos, preferi resguardar-me», disse à Lusa, no Campus da Justiça de Lisboa, no final da sessão do julgamento do processo em que foi conhecida a decisão do coletivo de juízes de condenar a penas de prisão efetiva seis dos sete acusados de crimes de pedofilia e lenocínio envolvendo ex alunos da Casa Pia.
«Chega de andar escondido e com rodeios», afirmou, reconhecendo que «esperava mais» da sentença mas que está «satisfeito».
«Tenho orgulho em mim, nos meus colegas e na instituição (Casa Pia)», disse.
Antes de falar à Lusa, Francisco foi abraçado por Pedro Namora, ex-casapiano que em 2002 denunciou a existência de pedofilia na instituição, que lhe agradeceu a coragem.
Sobre as outras três vítimas que estiveram presentes na leitura do acórdão, mas optaram por não dar a cara, Bernardo Teixeira disse que estão igualmente felizes, depois de tempos de grande ansiedade que antecederam a leitura da sentença.
Depois de conhecidas as penas, o psiquiatra Álvaro Carvalho, que desde o início do processo acompanha as vítimas, também considerou que se fez justiça, tendo em conta as «penas relevantes» que foram atribuídas aos arguidos.
À saída do tribunal, Álvaro Carvalho considerou que foi importante para as vítimas terem iniciado e vencido esta batalha, mas principalmente que tenha sido reconhecido que não mentiram.
O julgamento do processo de abusos sexuais na Casa Pia chegou hoje ao fim com a leitura do acórdão final, quase seis anos depois de ter começado, tendo Carlos Cruz sido condenado a sete anos de prisão efetiva.
Em tribunal responderam Carlos Silvino, ex-motorista da Casa Pia, o ex-provedor da instituição Manuel Abrantes, o médico João Ferreira Diniz, o advogado Hugo Marçal, o apresentador de televisão Carlos Cruz, o embaixador Jorge Ritto e Gertrudes Nunes, dona de uma casa em Elvas onde alegadamente ocorreram abusos sexuais.
Seis dos arguidos foram condenados a penas de prisão efetiva, que oscilam entre os cinco anos e nove meses e os 18 anos de prisão efetiva, enquanto Gerturdes Nunes foi absolvida.
O coletivo de juízes do caso Casa Pia determinou também que seis dos arguidos têm que indemnizar as vítimas com valores que variam, para cada uma, entre 15 mil e 25 mil euros, mas foram absolvidos de indemnizações cíveis.