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Nacional
Judite Sousa assinala a passagem de oito dolorosos anos sobre a trágica morte do filho
Judite de Sousa e André Sousa Bessa - Festa Lux/TVI Foto: Tiago Frazão/Lux
Redação Lux em 8 de Julho de 2022 às 10:00

No dia 29 de junho de 2014, a vida de Judite Sousa mudou para sempre. De um momento para o outro, foi-lhe roubado aquele que era, e continuará a ser, o seu amor maior, a pessoa por quem daria a vida caso isso fosse uma opção. Porém, a dureza da realidade não deixa margem para fantasias e a jornalista teve de enfrentar, quase sozinha, a dor incomparável de perder o único filho. André Sousa Bessa tinha 29 anos quando sofreu uma queda acidental numa piscina, durante um fim de semana com amigos, em Azeitão, que lhe provocou danos graves e a morte cerebral. Dois dias depois, a sua morte foi declarada.

“Para mim, foi ontem, é hoje, será amanhã”, escreveu recentemente Judite Sousa no espaço virtual das redes sociais, as quais, depois do silêncio dos últimos dois anos no que se refere à sua enorme perda, tem usado para partilhar sentimentos, dor e também revolta. Revoltada pelos comentários maldosos de que tem sido alvo, pela incompreensão das piadas que fizeram sobre a sua emotiva entrevista a Manuel Luís Goucha, na TVI, e pela falta de empatia que tem sentido desde a morte do filho, sobretudo, e inexplicavelmente, vinda dos que achava lhe serem mais próximos.

“Fui destratada sem o mínimo de compaixão, a começar num alegado programa de humor e a acabar no meu ambiente de trabalho. E não me venham dizer que me vitimizo. Uma mãe e um pai que perdem um filho não se vitimizam. São, por natureza da tragédia, vítimas. Para sempre.” Esta não foi a primeira vez que Judite Sousa apontou o dedo a quem nunca a amparou após a morte do seu único filho, um trágico acontecimento que, como é natural nestas situações, lhe provocou uma grave depressão.

“Pessoas que me acompanhavam há 40 anos voltaram-me as costas. Não aguentaram as minhas lágrimas. Houve pessoas que deixaram de falar comigo, pessoas que desapareceram”, disse em lágrimas na TVI, onde expôs os seus sentimentos mais profundos. Mas se horas houve em que Judite Sousa perdeu o sentido e a vontade de viver, tendo mesmo tentado pôr termo à sua própria vida, outras houve em que ganhou força para se reerguer.

Depois da saída da TVI, em 2019, a jornalista conseguiu cumprir o luto que tinha ficado por fazer em 2014, quando voltou a trabalhar apenas dois meses após a morte do filho. “Quando o André faleceu não houve ninguém que me dissesse que tinha de fazer o luto do meu filho. Acabei por fazer o luto nestes últimos três anos. O tempo não resolve o problema de fundo, como é óbvio. Ajuda-nos a conseguir ver os acontecimentos trágicos de outra forma, com mais serenidade, ponderação... Quando morre um filho nunca se consegue verdadeiramente o luto na sua plenitude.”

No entanto, foi esse tempo de introspeção que, no ano passado, lhe permitiu aceitar o convite da CNN Portugal para voltar a abraçar o jornalismo, uma das suas maiores paixões. “Regressei à televisão não esperando que tal pudesse acontecer, mas o projeto avançou”, partilhou sobre o “Jornal da CNN”, que apresenta duas semanas por mês e que foi concebido por si. Um regresso há muito esperado por quem sempre admirou o trabalho de Judite Sousa e que veio contrariar os que já tinham declarado a morte profissional da jornalista.

Por ela e pela memória do filho, que a acompanha diariamente, Judite Sousa ganhou força para se dedicar ao trabalho, à escrita e também à bolsa que criou em nome do filho, a Bolsa André Sousa Bessa na School Business of Economics da Nova de Carcavelos, que voltou a ser considerada pelo Financial Times como a melhor escola de negócios em Portugal. E, sem descendentes, Judite Sousa decidiu deixar todo o seu património a essa bolsa que nos últimos três anos já ajudou vários jovens de famílias carenciadas. “Fiz o meu testamento, deixando o meu património à bolsa de estudo do meu filho. Escolhi três dos seus melhores amigos para zelarem pelo cumprimento da bolsa. A cópia do meu testamento encontra-se na SBE. Tenho tudo acertado nas intenções e nos atos. É isto que realmente faz da vida algo demasiadamente importante. Tudo o resto é efémero.”

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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