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Simone de Oliveira recorda que foi mãe incógnita durante dez anos
Simone de Oliveira apresenta novo disco «Pedaços de Mim» Foto: Tiago Frazão/Lux
Redação Lux em 12 de Abril de 2014 às 09:20
Simone de Oliveira tornou-se famosa ao cantar «quem faz um filho fá-lo por gosto», mas antes do 25 de Abril foi «mãe incógnita» durante uma década por não ser casada com o pai dos seus filhos.

Em entrevista à agência Lusa, a propósito do 40.º aniversário da Revolução dos Cravos, Simone de Oliveira, 76 anos, defendeu que não há comparação possível entre o «antes» e o «depois», nem em termos de lei nem de costumes, e disse que a sua natureza livre a fez passar «as passas do Algarve».

«Eu casei pela Igreja e depois separei-me. E de uma outra ligação tive dois filhos. Se eu lhes pusesse o meu apelido, eram [considerados] filhos do primeiro. Ora, como isso ninguém queria e muito menos eu, acabaram por não ter apelido de mãe», contou.

Para a intérprete da canção «Desfolhada» - que, em 1969, chocou os portugueses com o verso mais conhecido do Festival da Canção, «quem faz um filho fá-lo por gosto» -, este costume era «extremamente violento» e mais ainda porque afetava muitas famílias.

«Assumi perfeitamente aquele verso até porque eu tive os dois filhos porque quis ter aqueles filhos! Não era casada e ninguém teve nada a ver com isso», sublinhou.

Simone de Oliveira disse que a situação só se resolveu dez anos depois, quando a sua filha mais velha estava prestes a entrar para o ciclo preparatório e teve de requerer, pela primeira vez, a emissão do Bilhete de Identidade.

Na altura, e tendo em conta o crescimento do número de crianças ditas ilegítimas, um ministro, de que Simone não se recorda, «resolveu fazer uma lei em que todas as crianças tinham direito a ter nome de pai e de mãe, fossem [estes] viúvos, solteiros ou divorciados», recordou.

«Nesse dia, lembro-me perfeitamente, foi no dia 01 de junho [de 1969], parecia que tinha vindo Lisboa toda para a rua e havia filas e filas nas conservatórias», disse, admitindo que «o dia foi de suspense e medo».

Com um «feitio temerário e intempestivo», Simone chegou à conservatória e resolveu que queria ir mais longe.

«O que se fazia na altura era pôr um averbamento na última página da cédula [de nascimento] com o nome dos pais», explicou, adiantando que quem exigisse um documento novo podia ser preso.

«Eu queria uma cédula nova. Tinha as cédulas antigas no bolso e ela [a senhora que atendeu] pediu-me «então dê-me as cédulas» e eu disse «não tenho, perdi-as»», contou.

«E a senhora, lembro-me perfeitamente, era uma senhora com o cabelinho apertado atrás, com uns óculinhos escuros, como se usa agora, olhou para a minha cara e julgo que ela deve ter percebido que eu estava a mentir. E disse-me «então a senhora está-me a dizer que quer cédulas novas» e eu disse «é». E à medida que a cédula se ia fazendo, iam dizendo «Fulano, filho de tal», à medida que a senhora ia escrevendo, o meu coração batia, batia, e eu dizia para comigo «está quase, está quase», «consegui, consegui, consegui», disse.

O momento foi comemorado pela família toda, quando foi mostrar as cédulas novas dos filhos a casa dos pais.

«Eles estavam os dois na varanda, o meu pai tinha o braço passado por cima do ombro da minha mãe e eu abri a porta do carro, [mostrei as cédulas] e disse «está aqui, conseguimos». E lembro-me perfeitamente de o meu pai ter aberto uma garrafa de champanhe, que estava lá muito bem guardada, e deitado por cima da cabeça dos pequenos», recordou.

O episódio «foi muito duro» e marcou a sua vida, garantiu, explicando que, durante muitos anos, teve «muito pouco respeito pelas pessoas» porque achava que «não tinham o direito de [a] acusar e magoar».

O gosto por fazer filhos e por dizê-lo levou-a, aliás, a outros diferendos.

«Quando cantei a «Desfolhada», desde polícia a cavalo até terem tentado prender-me, fizeram tudo. (¿) Passei as passas do Algarve, fui insultada em restaurantes e na rua e tudo. Foi muito complicado», contou.

Lusa
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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