PUB
PUB
Moda e Beleza
Especial Moda Outono/Inverno 2010: Sinais dos tempos
Especial Moda e Beleza
Felipa Garnel em 2 de Outubro de 2009 às 00:01
Uma espécie de hipersensibilidade, de estado de permanente nervosismo e de atenção na forma de estar e ver as coisas. E isto é tão importante quando embainhamos a altura de uma saia como quando costuramos sonhos e projectos de vida. Num e noutro caso, há que estar atento ao que aquilo que é presente denuncia já do que virá a ser o futuro.

Este olhar clínico cai bem em cientistas e em artistas, mas são estes últimos que celebramos quando, numa manhã cinzenta, nos enfiamos numa peça de roupa que, sozinha ou conjugada com outros tantos pequenos nadas, nos faz sentir que o dia vai valer a pena. Fútil? É indiferente.

Certo mesmo é que a moda tem este efeito mágico e electrificante, ligando-nos a uma corrente social e cultural que nos faz sentir bem, mais optimistas, mais capazes e audazes. Faz-nos sentir parte integrante de qualquer coisa e isso conforta.

Um prazer que antigamente se cosia a ponto miúdo à roupa domingueira e bordava no espírito esse mesmo deleite, justificado, então, pelas exigências da missa dominical. Um prazer tão bom que o quisemos tornar diário e nem Deus se importou, ciente da importância de cada segundo de felicidade.

Um prazer que de tão diário poderia ter deixado de ser fonte de prazer. Mas isso não acontece. O ritmo é inebriante e tudo se reforma a cada estação que passa. A que agora entra cristalizou sinais que havíamos percebido há duas ou três colecções - dissemos-lhe que os anos 80 estavam de volta, recorda-se? E como tudo está, de facto, intrinsecamente interligado, até a crise económica parece envolvida e não nos referimos apenas ao apertar do cinto,

agora definitivamente a marcar cinturas.

Numa resposta quase provocatória, a moda excede-se, ultrapassa limites, absorve luxos de todas as épocas, gasta muito pano, envolve-se em caxemiras, sedas e bordados

e diverte-se com cores néon. Abarca de um só fôlego folclore tradicional de inspiração lapónica e sofisticação urbana, deixando claro que não está virada para minimalismos ou ritmos binários.

A orquestra é numerosa e ruidosa, mas sempre harmoniosa. Enche-se de laços e folhos, volta a colocar enchumaços nos ombros, cobrindo a pista de dança de boas recordações e ritmo.

Numa louca space oddity, entreabre a porta da new wave e do punk, num grito que quase nos soa ao refrão de «London Calling», dos Clash. Democrática e renovadora, a todos dá espaço e na onda de sedução, onde o bâton regressa aos vermelhos, as divas grassam em visuais sedutores e sexy, pintados de negro, azul-escuro ou bordeaux, enquanto o charme confi ante e tradicional do tweed nos leva em voo directo às páginas de uma qualquer história de Sir Arthur Conan Doyle, a uma época em que Oscar Wilde «retratava» o snob e atormentado Dorian Gray, e onde chapéu e capa não eram adereços romanescos.

Da II Guerra Mundial recupera o espírito permissivo de uma era que teve o mérito de conceder às mulheres roupa e tarefas masculinas que lhes estavam, até então, interditadas.

Looks à aviador e à cavaleiro, compostos em torno de atrevidas silhuetas femininas, escondidas sob o artifício

do sempre fiel estilo casual.

Nesta panóplia de sentidos, l`air du temps também nos surge como retalhos de brisas oriundas de várias direcções que também nós podemos coser a bel-prazer, consoante

as exigências da agenda ou uma caprichosa disposição, num patchwork de possibilidades. Importante é que saiba

sempre com que linhas se cose.
Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
Comentários

PUB
pub
PUB
Outros títulos desta secção