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Nacional
Vanessa Barros Cruz em 25 de Fevereiro de 2016 às 10:40
Helena Ribeiro Telles convida para corrida solidária no Campo Pequeno, dia 27

Aos 17 anos, aproveitou um período de férias e foi fazer voluntariado para o HospitalGeral de Luanda. 

“Na altura havia a guerra civil e o meu pai dizia para a minha mãe: ‘Proíbe a miúda de ir.’ E ela respondia: ‘Mas se eu fosse nova, ia com ela, como é que posso proibi-la?’”

A necessidade de ajudar os outros vem desde cedo e levou Helena Ribeiro Telles a criar a Fundação L.Vida, no Dondo, perto da Cidade da Beira, depois de se ter mudado para Moçambique há “uns 16 anos”.

“A fome foi o que mais me impressionou. Existe muita fome, muita subnutrição. E vimos miúdos a morrer perto de nós, é uma realidade muito dura. Hoje matamos a fome a 250 crianças, cuja comida, o ensino e os cuidados de saúde custam à volta de 50 cêntimos por dia, por cada uma”, explicou a assistente social. É para elas que reverterá a bilheteira do Festival Taurino Solidário,que se realizará no próximo dia 27, no Campo Pequeno, em Lisboa, que terá a participação pro bono dos cavaleiros António, Manuel e João Ribeiro Telles. “Em 2011 angariámos 76.320 euros, que deram para dois anos de vida da fundação.

"Este ano queremos esgotar e angariar mais”, afirmou Helena Ribeiro Telles.

Mãe de cinco filhos com idades entre os 16 e os 11 anos, a assistente social faz questão de agradecer e salientar o apoio que a família sempre lhe deu. “Sem o meu marido, nunca teria fundado a L.Vida. De toda a parte financeira, durante anos, foi ele que tratou. E é ele que me ajuda a tratar de toda a parte logística. É o meu braço direito. Em relação aos miúdos, além de serem eles próprios padrinhos de algumas crianças, são sempre os primeiros a ajudar em campanhas de redes 
mosquiteiras, de eventos de angariação de fundos... Agora, por exemplo, fez-se um jantar de angariação de fundos para 300 pessoas, este sábado, que foi servido pelos meus filhos e pelos meus sobrinhos”, partilhou Helena, que regressou com a família há cerca de cinco anos, mas vai a Moçambique mês sim, mês não, para tratar das coisas da fundação que, atualmente, tem 16 funcionários.

Nas férias de verão, já está decidido que vai para lá trabalhar com a sua filha mais velha, Teresa, de 16 anos. “Eu sou suspeita, mas acho que os meus filhos são diferentes. Para já, eles são africanos e estão sempre a dizer-me que querem ir para Moçambique. A Teresinha quer ser assistente social. Acho que eles são do mundo, porque viveram nesse mundo onde se vê pobreza absoluta”, explicou. Esses valores vêm de trás: “Eu cresci numa família enorme, muito cheia de amor e de Deus. Uma família muito boa, muito unida. A minha mãe já morreu, mas era uma mulher extraordinária. Tinha 12 filhos, mais dois que adotou, e era uma mulher cheia de força, com uma energia imparável, incrível. Ela dizia-me sempre: ‘Seja valente, aguente. Você consegue.’ E o meu pai é um santo na Terra. Dizia-me sempre: ‘Esqueça-se de si própria, seja humilde.’ O meu pai consegue fazer com que cada um dos filhos sinta que é especial para ele. Por isso nunca houve ciumeira. Eu falo com ele todos os dias, vou vê-lo todas as semanas,fico com mau feitio se não for vê-lo. Tenho de me agarrar a ele aos beijinhos e dizer-lhe ‘que é a pessoa mais importante da minha vida, que é a pessoa de quem mais gosto’. E ele chora, fica emocionado com isso”, descreveu Helena Ribeiro Telles,sobre o mestre David Ribeiro 
Telles, que a ajudou a elaborar o cartaz da corrida solidária, a par de Rui Bento, do Campo Pequeno. 

O festival conta com os matadores Vítor Mendes e dois espanhóis que estão no auge das suas carreiras – Juan del Álamo e Finito de Córdoba. No fim, espera festejar por ter conseguido garantir um futuro melhor para os seus filhos africanos. “É emocionante ver o que se criou. Quando chego à Fundação e os pequeninos começam a cantar uma música que fizeram 
para mim… isso emociona. Mas tudo o que consegui fazer até hoje é graças à fé e à confiança que tenho em Deus 
e à equipa extraordinária que trabalha comigo.”

Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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